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A Biblioteca da Daniela

A Biblioteca da Daniela


Fangirl, de Rainbow Rowell, centra-se em Cath, uma rapariga de 18 anos que inicia uma nova etapa na sua vida como adulta, a Universidade. Contudo, ela não quer deixar para trás um amor de infância: uma coleção de livros de Fantasia que se foca em Simon Snow e nas suas peripécias como mágico. Cath escreve fan fiction, ou seja, histórias criadas por fãs que querem alargar e/ou alterar o universo de um livro, de uma série televisiva ou de um filme. Parece ser algo inofensivo, mas a sua vida é demasiado "controlada" pela ficção. Além disso, ela também não sabe interagir com os outros, sofre de ansiedade e não acredita em si própria quando escreve outros textos para além de fan fiction. Portanto, como irá ela lidar com o afastamento da irmã, os problemas do pai e o aparecimento de Levi, um rapaz sorridente e extrovertido? Como irá ela lidar com a Universidade? Será ela capaz de encontrar um equilíbrio entre a realidade e a ficção?


Fangirl é um romance engraçado, razoavelmente leve (digo isto assim, pois aborda assuntos importantes, mas de forma simples) e ternurento. É, ainda, uma homenagem aos fãs, que são fundamentais não só para o sucesso de um livro, de uma série ou de um filme, como também expandem os horizontes dos mesmos. Como romance contemporâneo para Jovens-Adultos, Fangirl apresenta personagens jovens, mas quase adultas, credíveis e, com as quais, os mais novos se podem identificar. De facto, é um livro genuíno e quase perfeito. Digo quase perfeito, pois penso que certos temas não foram bem retratados. Ainda assim, mostra como é importante o equilíbrio entre a ficção e a realidade, isto é, é bom ler para nos afastarmos da realidade e, também, para aprendermos algo acerca dela através da imaginação. No entanto, também é importante ter os pés bem assentes na terra.

Fangirl by Rainbow Rowell
Fanart (fonte: Pinterest).

O enredo é muito simples, mas, se pensarmos bem, contém personagens e situações que não estão muito presentes na literatura contemporânea para os Jovens-Adultos (falo em relação ao mercado português). Por exemplo, temos a presença de personagens que sofrem de ansiedade, de depressão e de dislexia, bem como problemas com o álcool. Apesar de ser bom haver personagens que apresentam estas condições, não gostei muito da forma como elas foram tratadas. Foram tratadas de forma demasiado leviana ou, então, não houve uma pesquisa profunda relativamente a estas situações. Mas, agora, vou falar dos aspetos positivos.
Como há tantas personagens femininas, seria de esperar muitas cenas de rivalidade entre elas. No entanto, em relação a isso, este livro inova. Não quer dizer que as personagens femininas não tenham as suas discussões, mas, pelo menos, não servem para enaltecer as personagens masculinas e enfraquecer as femininas. Servem para mostrar que qualquer pessoa pode ter problemas com qualquer pessoa e que tudo pode ser resolvido através do diálogo e do esforço em perceber o outro. Deste modo, é bom ver um livro que não se foca em conflitos desnecessários entre raparigas devido a relações amorosas.
Um outro aspeto bom, e que é algo não muito frequente nos livros para Jovens-Adultos, é a presença da família. Já li muitos livros YA (Young-Adults, ou seja Jovens-Adultos) em que os pais ou outros elementos familiares existem, mas são mencionados apenas uma ou duas vezes e parecem não fazer parte da educação ou da vida das personagens mais novas. Neste caso, há um pai, que tem problemas do foro da saúde mental, mas não é menos pai por isso. De facto, mostra que a saúde mental deve ser levada a sério e que não é uma vergonha, nem sinal de fraqueza ou de incapacidade. Há, ainda, uma mãe que abandonou a sua família e que, anos depois, gostaria de entrar em contacto com as filhas. Também é uma situação rara neste tipo de histórias e, embora tenha sido tratada de forma rápida neste livro, mostra que Rainbow Rowell tinha a intenção de inovar o panorama dos romances para Jovens-Adultos ao incluir personagens e situações diferentes e realistas.


Relativamente à escrita, esta é simples, mas extremamente viciante. Repleta de humor, mas também de seriedade, permite que o livro tenha uma essência muito familiar, sendo capaz de cativar qualquer leitor. Faz-nos devorar páginas e mais páginas. Rainbow Rowell tem mesmo um dom. É uma escrita que parece ser muito natural e, assim, faz-nos apaixonar também pela história. Deste modo, a forma como Rowell escreve e a forma como cria enredos funcionam muito bem em conjunto.

Quanto às personagens, e como puderam ver nos parágrafos anteriores, elas são muito diversificadas e há de tudo um pouco para todos os leitores. Temos Cath, tímida, ansiosa, pouco destemida, mas querida e persistente, que adora escrever, falar sobre ficção e que tenta ajudar os outros. Temos Levi, um rapaz extremamente simpático, carinhoso e resiliente, que não permite que as adversidades da vida o façam desistir. Gostei muito da relação entre Cath e Levi, pois não é muito comum vermos a rapariga ser aquela que elogia mais a pessoa com quem namora. Também dá muitos mimos ao Levi e isso, certamente, deixará muitos leitores felizes. Depois, temos Wren, a irmã de Cath, e Reagan, a companheira de quarto de Cath, que são espíritos livres e que, de facto, passam por momentos menos bons, mas aprendem com os seus erros. Podem não mostrar os seus sentimentos, mas, lá no fundo, gostam dos seus amigos. Também quero destacar o pai da Cath e da Wren, que, apesar dos seus problemas, esforça-se sempre em ser um melhor pai.


Fangirl by Rainbow Rowell
Fanart (fonte: Pinterest).
Depois de tudo isto, podem ver que Fangirl não é apenas mais um livro sobre uma rapariga peculiar que se apaixona por um rapaz e, assim, a história não passa disso. Não, ainda bem que este livro é muito mais do que isso. O enredo tem muitos fios condutores interessantes. É verdade que, como mostrei, nem todos foram bem explorados, mas é um livro diferente por tentar ser mais realista e por ter uma escrita agradável e cativante. Deixa-nos a sorrir e faz-nos pedir por mais.



Classificação: 4/5 estrelas.










O coração de Simon conta o mundo, de Becky Albertalli, é um romance contemporâneo para Jovens-Adultos. Dá-nos a conhecer Simon, um estudante do ensino secundário que tem um segredo: ele é gay. Só uma pessoa é que sabe disso, um rapaz conhecido por Blue, por quem Simon se apaixona ao trocar com ele imensos emails amorosos e engraçados. Todavia, um dia, Simon deixa a sua conta ligada num computador da escola e um colega descobre e ameaça-o revelar o seu segredo em troca de um favor. Irá Simon sair derrotado desta situação ou irá ele finalmente conseguir mostrar ao mundo quem ele realmente é?



Um dos livros mais adoráveis de sempre! Um romance com uma escrita tão simples, mas tão fascinante, entusiasmante e divertida, que pretende mostrar que o amor não ocorre apenas entre um homem e uma mulher e, por isso, também pretende mostrar o quão normal é o amor entre pessoas do mesmo sexo. Faz abrir os olhos a quem não aceita as diversas e infinitas facetas do amor e faz-nos sentir felizes por ser uma história tão inocente e tão cativante.


Como qualquer romance YA  (Young-Adult: Jovem-Adulto) contemporâneo, o enredo tem alguns clichés. Contudo, penso que é uma boa forma de se mostrar que, independentemente do género e/ou da identificação sexual, o amor é amor. O livro apresenta dramas típicos da adolescência, discussões entre amigos e familiares, festas, dúvidas, momentos embaraçosos e muito mais, tal como em qualquer outro romance YA. Ainda assim, é uma história diferente graças às personagens, que parecem ser tão reais ao ponto de, no final, acharmos que são amigos nossos. Normalmente, os clichés são mal vistos. Costumam ser situações ou ideias que são usadas tantas vezes  que não trazem originalidade à história, mas isso não acontece no livro de Albertalli. Ela renova-os ao ponto de eles não parecerem ser clichés. 
A história desenrola-se num bom ritmo, nem muito devagar, nem muito depressa. Foi elaborada de forma muito organizada, mas transmite a sensação de que foi construída de forma fluída e natural. Não há nenhum ponto solto e todas as personagens, principais ou não, desempenham um papel importante, principalmente quanto a um livro que pretende mostrar que as pessoas LGBTQ+ são, obviamente, pessoas.
É uma história engraçada e agradável. Adorei as referências à cultura pop, ou seja, a livros como Harry Potter, a programas televisivos, etc. Adorei como a personagem principal, Simon, está envolvida no teatro da escola. Adorei as tais dúvidas típicas da adolescência. Mas também é uma história que deve ser levada a sério. Muitas pessoas morrem, porque a sociedade não as aceita tal como elas são. Muitos morrem, porque a sociedade diz que não devem ser gays. Muitos morrem, porque a sociedade diz que não devem ser transsexuais. Muitos morrem devido à cor da sua pele. Portanto, um romance como O Coração de Simon Contra o Mundo é fundamental no nosso tempo. Mostra que a sociedade está errada ao não aceitar essas diferenças. Gosto de dizer que somos todos iguais por sermos todos diferentes.





"Simon vs. the Homo Sapiens agenda"   <3
Fanart (fonte: Pinterest).
E não é que a escrita é tão boa quanto ao enredo? Aliás, grande parte da magia do livro reside na escrita de Becky Albertalli. A naturalidade e a simplicidade do seu estilo são incríveis. É uma escrita sincera numa história sobre segredos e máscaras. É uma escrita fresca e leve. Distrai-nos do mundo que nos rodeia e faz-nos saborear facilmente o enredo.


Mais um ponto positivo em relação a esta linda história: as personagens. Autênticas como a escrita, mas não quer dizer que sejam perfeitas. Há muitas pessoas que pensam que a literatura deveria ter personagens perfeitas, na medida em que elas deveriam ser um exemplo para as pessoas. No entanto, não concordo com essa ideia, que considero estapafúrdia. As personagens, no caso de serem pessoas, devem ser, então, humanas. Nós, como humanos, temos imperfeições. Simon pode ser muito simpático, divertido e adorável por ser um pouco socialmente estranho, mas também julga os outros e faz uma asneira ou outra. Ele é o exemplo de que é possível gostarmos de personagens imperfeitas. Também gostaria de dizer que não se dá apenas relevo a uma personagem gay. Há também uma personagem bissexual. Há também uma personagem negra. Como Simon se apaixona, há também mais uma personagem gay. Portanto, é magnífico ver as minorias representadas. É como Blue diz: "É definitivamente irritante que hétero (e branco, já agora) seja a norma, e que as únicas pessoas que têm de pensar na sua identidade sejam as que não encaixam no molde".

Fanart (fonte: Pinterest).



Concluindo, O Coração de Simon Contra o Mundo é para toda a gente, mas principalmente para aqueles que, até agora, não tinham ninguém como eles na ficção. Mostra que ser gay não é erro nenhum, que é uma diferença que, infelizmente, a sociedade, no geral, não aceita ainda. Mas é uma história sobre o amor, a amizade e a esperança. O amor e a amizade são importantes para que a esperança por um mundo melhor permaneça, para que depois essa esperança passe a ser uma realidade que possamos viver. É um livro adorável, que nos faz sorrir e que contém personagens incríveis e verossímeis. Aconselho a 100% a leitura deste livro.



Classificação: 4.5/5 estrelas.