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A Biblioteca da Daniela

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P.S: A opinião contém alguns spoilers.


O Ensaio sobre a cegueira é praticamente uma distopia onde, de repente,  as pessoas ficam cegas, exceto uma mulher, a esposa de um oftalmologista. Numa primeira fase, o governo decide organizar locais de quarentena para os que ficaram subitamente cegos. A mulher acompanha o seu esposo, fingindo ser cega. Todo o romance é sobre o melhor e o pior do ser humano. Será que esta cegueira branca misteriosa tem cura? Será que a maldade irá sobrepor-se à bondade? Como irá a mulher viver numa terra de cegos? 


É a terceira vez que leio um livro do grande Saramago e este é o que eu gostei mais de ler até agora. É um romance que perturba, que inquieta, que nos faz refletir. Saramago analisa, estuda e disseca a sociedade num contexto inimaginável: e se todos ficassem cegos de repente? Estamos, portanto, perante uma premissa fascinante onde há de tudo um pouco. Há uma forte exploração de temas, como as dinâmicas de poder, a violação como a arma do medo e de demonstração de poder, a ausência de esperança, a resiliência do ser humano, a ganância, etc. A execução da premissa é formidável e só mostra como é que este autor português ganhou o Prémio Nobel da Literatura em 1998. 


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Uma imagem da adaptação cinematográfica (2008) do romance. Mostra a destruição e o estado do exterior dos locais de quarentena após a epidemia da cegueira. Fonte.

As personagens são igualmente incríveis e funcionam como representações de diferentes atitudes humanas. Por isso, nenhuma delas tem nome e são conhecidas através de uma característica, como a profissão. Temos homens, mulheres e crianças. Uns já perderam a esperança, outros ainda são capazes de ter forças para viver. Uns sentem-se fracos, outros conseguem ser líderes, mas não necessariamente bons líderes. Há figuras que ainda têm um bom coração e outras que apenas conseguem sentir ódio e sede por poder, ao ponto de roubarem ou exigirem objetos inúteis e que, neste contexto, perdem valor.

Há uma personagem que se destaca: a mulher do oftalmologista. Nos edifícios de quarentena, cheios de grupos que tentam lutar pela sobrevivência, ela nunca diz que consegue ver e o seu marido é o único que sabe (os mais próximos vão sabendo aos poucos). Ela acha que poderia haver consequências negativas se um desconhecido soubesse da condição dela. Como iriam tratá-la? Será que iriam venerá-la? Será que ela poderia ser uma rainha? Ou será que iriam usá-la para tudo e mais alguma coisa? Será que ela passaria a ser uma criada? Um outro aspeto interessante relativamente a esta personagem é a forma como, mesmo numa situação tão horrível, ela nunca diz que consegue ver, sendo capaz de lutar. Isto acontece numa das cenas mais terríveis e assustadoras do livro: a violação de várias mulheres pelo grupo de homens mais temido e poderoso da quarentena. É mesmo o ser humano no seu pior. É o homem que se aproveita da mulher, usando-a como um objeto sexual. É a mulher que nada pode fazer perante a sua vulnerabilidade. É uma análise profunda e nojenta da cultura da violação e do sexismo. Nem a mulher que não é cega escapa, pois é impotente perante as armas que os homens conseguem usar mesmo estando cegos. Até os homens que conhecem as mulheres acham que elas estão a cumprir o seu objetivo "natural" e que estão a contribuir para o bem coletivo. Poucos defendem-nas. É nessa ausência de ajuda que a mulher  do oftalmologista age e reconhece o poder que tem.


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Julianne Moore desempenhou o papel da única pessoa que não foi afetada pela epidemia. Fonte.


A escrita de José Saramago, como já devem ter ouvido falar, não é fácil e exige alguma concentração. Não estamos perante uma leitura leve que nos deixa o coração quente e alegre. É uma leitura assustadora, uma crítica a uma sociedade que, mesmo no seu estado mais frágil, não consegue deixar de revelar o seu lado feio e sombrio. A escrita revela o cuidado, a destreza e a maturidade de alguém que vê a literatura como o espelho da humanidade. É também alguém que vê a literatura como um laboratório onde pode examinar o ser humano. Além disso, é uma escrita única pela forma como Saramago utiliza a pontuação e como constrói os parágrafos e os diálogos. Por acaso, consigo ler os seus livros bastante bem e não tenho problemas em perceber se estou a ler um diálogo ou não. Para muitas outras pessoas, isso não é fácil, mas acho que é algo possível de ser alcançado com a leitura de mais livros deste autor.


Em suma, o Ensaio sobre a Cegueira é uma leitura forte, pavorosa, mas com uma mensagem minimamente esperançosa no final. Mesmo depois da última página, continuamos presos a este livro brilhante. Afinal, o que significa esta cegueira branca? Porquê branca? Como é que a mulher do oftalmologista não ficou cega como os outros? É um livro que nos arrepia por ser tão bom, tão bem escrito e pensado, deslumbrando-nos também pela sua frieza e por não nos fazer esquecer que a humanidade é complexa. É uma leitura lenta devido à escrita singular e, considerada por muitos, densa, mas não deixa de ser um livro com mensagens importantes.


Classificação: 4.5/5 estrelas.


Um dia destes, a Wook tinha promoções de 20% a 50%. Normalmente, as novidades só têm 10%, mas, neste caso, elas estavam incluídas na categoria dos 20%. Aproveitei essa oportunidade para encomendar um livro que foi recentemente publicado pela Topseller, Sadie, de Courtney Summers.





Sinopse retirada do site da Topseller:


 Uma rapariga desaparecida em busca de vingança.
Uma investigação alucinante transmitida em podcast.
Um final de cortar a respiração!
O radialista West McCray é contactado por uma desconhecida que lhe lança um apelo: localizar uma rapariga de 19 anos chamada Sadie Hunter. Uma história a que ele dá pouca importância, afinal, o desaparecimento de uma rapariga nada tem de insólito.
Só que Sadie não é uma fugitiva qualquer. Sofrendo de gaguez,abandonada pela mãe, vê o seu mundo desmoronar quando a irmã mais nova é brutalmente assassinada e a polícia mostra-se incapaz de encontrar o culpado. Quererá Sadie fazer justiça com as próprias mãos?
Perante o turbilhão de perguntas sem resposta, West fica obcecado com o caso e inicia um podcast inteiramente dedicado à investigação. O jornalista ruma à cidade natal de Sadie, para seguir de perto o rasto da jovem e desvendar este mistério antes que seja tarde demais. Cada pista revela uma verdade absolutamente chocante?

Este livro é um thriller YA que se tornou num bestseller na lista do The New York Times e foi considerado um dos melhores livros do ano pela American Library Association, pelo Boston Globe e pelo Publishers Weekly. Graças a este romance, Courtney Summers ganhou o prémio Edgar, um prémio que homenageia Edgar Allan Poe e que é atribuído a histórias policiais. Também recebeu outros, como o Odyssey Award Audie Award.
Courtney Summers publicou o seu primeiro livro quando tinha 22 anos, em 2008. Criou a hashtag #ToTheGirls, em 2015, com o objetivo de reunir mensagens positivas online para raparigas. Tem 33 anos e vive no Canadá.
Quem já leu este livro? Quem gostaria de ler este thriller?

As maratonas literárias (ou read-a-thons) são como as maratonas que fazemos quando vemos uma série ou uns quantos filmes. Para explicar melhor, irei usar o exemplo de séries. Quando uma pessoa escolhe ver uma série e tem muito tempo para tal, pode optar por ver uma temporada inteira num dia. No mundo literário, é mais ou menos isso. Uma pessoa ou um grupo de pessoas decide organizar uma maratona de leituras, convidando praticamente toda a gente a fazer parte dela. Distingue-se dos clubes literários por ser algo temporário e por, normalmente, não ter apenas um livro como ponto de partida. Pode durar apenas 24 horas, 48 horas, uma semana, duas semanas, etc. Costuma ter um tema e, a partir do mesmo, os fundadores dessa maratona elaboram desafios literários focados nesse mesmo tema.


Nunca participei numa read-a-thon/maratona literária, pois, muitas vezes, não tenho tempo ou, então, não tenho livros adequados para os temas. Às vezes, não participo por não serem suficientemente interessantes para mim. Contudo, encontrei uma que me deixou curiosa, pois gosto do tema e de como conseguiram incluir o outono como um desafio literário, já que hoje é o primeiro dia do outono. Por isso, a publicação de hoje é dedicada a essa maratona e irei traduzir os seus desafios e dar a conhecer o tema.



A read-a-thon que eu encontrei chama-se Gilmore Girls Read-A-Thon. Foi criada por três booktubersOlivia, Desi e Mackenzie. Começa no dia 1 de outubro e acaba no dia 15 de outubro. É uma maratona focada em vários aspetos da emblemática série Gilmore Girls, que é sobre Lorelai, uma mãe jovial e divertida e a sua filha estudiosa e caseira, Rory. Tem como desafios:


  1. Ler um livro que tem como cenário uma escola (em honra de Yale e Chilton);
  2. Ler um livro sobre a relação entre uma mãe e uma filha (em honra da dupla Lorelai e Rory);
  3. Ler um livro acolhedor que se passa no outono/inverno (em honra de Stars Hollow e de quando Lorelai cheira a neve);
  4. Ler um livro com interesses amorosos complicados (em honra de Rory, Dean e Jess);
  5. Ler um livro de um escritor asiático ou que tenha representatividade asiática (em honra de Lane, a melhor amiga de Rory);
  6. Ler uma sequela que faz parte de uma coleção que ainda não acabaste de ler (em honra de A Year in the Life);
  7. Ler um livro que tenha comida na capa ou onde a comida é uma parte importante do livro (em honra do Café do Luke).



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Lista original da maratona.

Para além dos desafios, também escolheram um livro comum para todos e que foi escrito por uma das protagonistas da série: Talking As Fast As I Can, de Lauren Graham.


Penso que não é obrigatório seguir todos os desafios. Isso depende da forma como a pessoa gere o seu tempo ou até mesmo dos livros que escolhe. Muitos acabam por escolher livros pequenos para poderem realizar todos os desafios. Noutros casos, há quem combine os desafios. Por exemplo, alguém poderia combinar o desafio do livro que tem a escola como cenário com o desafio dos interesses amorosos complicados e, assim, ler um único livro que tenha esses dois aspetos. O objetivo principal destas maratonas acaba por ser o sentido de comunidade e a partilha de livros e de opiniões. Deste modo, não é tão diferente de um clube literário, mas inova por ser um evento que sobrevive e cresce graças aos outros desafios criados somente para as redes sociais (publicações de artigos, fotografias, vídeos, etc.), o que não é o caso desta maratona.

Vou tentar participar nesta maratona e, em princípio, irei juntar desafios. Tenho um grande interesse nesta readathon, pois, apesar de ainda não ter visto a série toda, gosto muito dela. É uma história engraçada e encantadora.

Se participar, irei escrever um artigo sobre os livros que escolhi para cumprir os desafios. Vai ser interessante!