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A Biblioteca da Daniela

A Biblioteca da Daniela

Relativamente aos lançamentos literários nos EUA, alguns deixaram-me muito curiosa. A lista de hoje contém um YA contemporâneo, um YA de Fantasia e um YA de Ficção Científica.
Eu acompanho as novidades editoriais americanas através do Twitter e tenho reparado que muita gente acha que, ultimamente, as editoras não têm apostado muito na Ficção Científica, o que é esquisito. Espero que a situação melhore em breve!


Em primeiro lugar, temos o romance contemporâneo jovem adulto de Becky Albertalli e Aisha Saeed. Yes No Maybe So narra a história de dois jovens ativistas políticos, Jamie Goldberg e Maya Rehman, que fazem parte de uma campanha eleitoral. Jamie prefere estar nos bastidores, pois não gosta de falar com desconhecidos. Mas, depois, conhece Maya, uma rapariga que está a passar pelo pior Ramadão de sempre. Juntos, terão de ir de porta em porta para arrecadar votos para o candidato. Como irá ser a relação deles tendo em conta o ativismo e as diferenças culturais?

Foi lançado no dia 4 de fevereiro pelBalzer & Bray/Harperteen.



Yes No Maybe So
Sinopse original.

A seguir, temos um romance de Fantasia para jovens adultos. All the Stars and Teeth, de Adalyn Grace, é sobre a princesa de Visidia, Amora Montara, que passou toda a sua vida a treinar para ser a mestre das almas. O resto do reino pode escolher os seus poderes, mas, para Amora, nunca foi uma escolha. Para assegurar o seu lugar como herdeira do trono, ela tem de mostrar o seu domínio na perigosa magia de almas.
Quando a sua demonstração corre mal, Amora é forçada a fugir. Aí, ela faz um acordo com Bastian, um pirata misterioso. Ele irá ajudá-la a provar que pode reinar e ela terá de garantir que a magia dele, que lhe foi roubada, será devolvida.
No entanto, uma magia nova e destrutiva está a crescer e, se Amora quer vencer, terá de enfrentar monstros lendários, encontrar-se com sereias vingativas e lidar com um clandestino inesperado... Ou tirá arriscar o futuro de Visidia e perder a sua coroa para sempre.

A editora St Martin's Press lançou este livro no dia 4 de fevereiro.



Sinopse original.



Por fim, temos The Sound of Stars, de Alechia Dow. Neste romance de Ficção Científica, há um conflito entre os líderes da Terra e os invasores Ilori, o que resultou na morte de um terço da população mundial. Janelle Baker, ou Ellie, de 17 anos, tenta sobreviver numa Nova Iorque controlada pelos Ilori. Com os humanos vistos como voláteis e perigosos por causa da sua reação inicial à invasão, a expressão emocional pode ser motivo para execução. A música, a arte e os livros são ilegais, mas Ellie quebra as regras ao manter uma biblioteca secreta. Quando um livro desaparece, Ellie teme que os Ilori irão encontrá-la e matá-la.
Nascido num laboratório, M0r1S foi criado para não ter emoções. Quando ele encontra a biblioteca ilegal de Ellie, ele tem de cumprir o dever de a levar para ser executada. O problema é que ele passa a gostar da música humana e quer ouvir mais música. O futuro da Ellie, e também da humanidade, está nas mãos de um extraterrestre que ela deveria temer. Ambos acabam por realizar uma viagem perigosa com uma mala com livros e álbuns. Irão eles conseguir sair desta situação vivos?

Foi lançado pela Inkyard Press no dia 25 de fevereiro.



The Sound of Stars
Sinopse original.


O que acham destes lançamentos de fevereiro? É interessante como as três capas têm tons de azuis, não acham?



New trailer and poster arrive for Anne, based on Anne of Green Gables
Poster oficial da primeira temporada.
Fonte.

Anne with an E é uma série da Netflix e da CBC baseada no clássico de Lucy Maud Montgomery, Anne of Green Gables (em português: Anne dos Cabelos Ruivos/Anne das Empenas Verdes).

No livro, seguimos as aventuras de Anne nas Empenas Verdes, em Avonlea, depois de ser adotada por Matthew e Marilla Cuthbert, dois irmãos que, na realidade, estavam à espera de receber um rapaz órfão. Embora tenha sofrido imenso como órfã, a menina de 11 anos é sonhadora, adora palavras "caras" e tem uma imaginação muito fértil. O problema é que ela não está habituada à forma como a sociedade vive, isto é, à austeridade e à seriedade. Apesar disso, Anne não deixa de ser quem realmente é e vai animar e ensinar as pessoas de Avonlea. É uma história sobre a pertença, a família e a diferença como algo bom.



Bertrand.pt - Anne das Empenas Verdes
Edição portuguesa da Relógio d'Água.
Há, ainda, a edição da Civilização. Infelizmente, as duas edições encontram-se esgotadas ou não disponíveis. No entanto, acho que a Relógio d'Água ainda vende exemplares no seu site.

O primeiro episódio começa mesmo no momento em que os irmãos Cuthbert estão à espera de receber um rapaz órfão, que iria ajudar Matthew nas tarefas da quinta. No entanto, houve algum erro e recebem Anne. A partir daí, vemos como Anne se adapta à vida familiar em Empenas Verdes e à comunidade de Avonlea, assim como o inverso.

Mal introduziram Anne, apaixonei-me imediatamente pela série. Como não amar uma personagem tão jovem que sonha acordada e adora palavras? E a atriz, Amybeth McNulty, prova como é PERFEITA para interpretar este papel. A sua performance é muito credível e dá luz a toda a série. Faz-nos esquecer o que nos rodeia. É como se o espectador estivesse no mundo de Anne e não no mundo real.
Além disso, a atriz interpreta muito bem diversas emoções. Ela mostra muito bem o sofrimento, a alegria, o amor, a repugnância que Anne sente conforme a situação. Amybeth McNulty é, de facto, a alma deste projeto.



Watch But What Is So Headstrong as Youth?. Episode 3 of Season 1.
Amybeth McNulty como Anne Shirley-Cuthbert.
Nesta cena, Anne está a declamar um poema com muita vivacidade, o que é algo característico da personagem.


Os atores que interpretam os irmãos Cuthbert também são excelentes. Marilla é quem manda em casa. Realiza todas as tarefas domésticas e ajuda um pouco na quinta. Ela está constantemente a exigir respeito e não aceita atitudes fora do normal. Quer tudo impecável e prefere seguir as normas sociais. No entanto, é uma personagem que cresce muito a nível emocional e muda imenso ao conhecer Anne. A atriz, Geraldine James, é muito boa nisso. Se, num momento, mostra frieza, no outro, mostra doçura maternal ao finalmente perceber que há mais na vida para além de comportamentos austeros e severamente controlados. A personagem, aos poucos, adapta-se ao seu novo papel de mãe de uma menina muito jovem e inteligente. Lentamente, também consegue abrir um pouco do seu coração.

Matthew, interpretado por R. M. Thomson, é um homem muito reservado, tímido e introvertido. Não fala muito, mas adora imenso Anne quando a conhece. Ela é o oposto dele e talvez seja por isso que ele adora imenso a menina. É um homem que já sofreu muito e não gosta falar da sua dor. Ele tenta dar o melhor de si e gosta de ser como um pai para Anne. É um amor de pessoa e, tal como Anne, conquista o coração de qualquer espectador.



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Matthew Cuthbert (R. M. Thomson) e Marilla Cuthbert (Geraldine James) são os dois irmãos que adotaram Anne.


Uma outra personagem espetacular é Gilbert Blythe, que é interpretado por Lucas Jade Zumann. Ele, sem dúvida alguma, mostra que é possível desconstruir a masculinidade tóxica. Uma das suas primeiras cenas tem a ver com palavras rudes que alguns rapazes dizem a Anne por ser órfã. Gilbert imediatamente diz que não é um motivo para gozarem com Anne e, sem receios, diz que ela é adorável. Na minha opinião, é um bom exemplo a seguir para os rapazes mais jovens. Já chega de dizermos aos rapazes que maltratar as meninas ao gritar nomes "feios" e empurrá-las são formas de engate. Gilbert é também como uma versão masculina de Anne. Não o vemos usar muito a sua imaginação, mas ele é um excelente aluno e, tal como a personagem principal, adora palavras e aprender. Quando os dois aparecem juntos, a história é ainda mais bonita. Transmitem muita inocência e são adoráveis.



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Lucas Jade Zumann como Gilbert Blythe.


Tal como as personagens, o enredo é muito rico e cativante. É uma história que aborda imensos temas atuais, como a saúde mental, o bullying, as diferenças entre os mais ricos e os mais humildes, o feminismo, etc. As cenas que mais me comoveram foram os momentos em que Anne sente que ainda não pertence à família Cuthbert e sofre porque pessoas mais snobes não conseguem aceitar a sua personalidade radiante e energética. Relacionada com esta cena, temos também o momento em que Marilla começa a fazer parte de um grupo de mães feministas. Elas acreditam na educação para as jovens e acham que as mulheres podem trabalhar como os homens. No entanto, é o mesmo grupo que não aceita uma jovem diferente como Anne e que preferem manter as suas filhas afastadas dela. São, na realidade, preconceituosas e Marilla vê isso e até critica precisamente a falta de compreensão por quem é diferente. Uma outra cena linda e pura é quando Anne percebe que a tia de uma amiga é lésbica e não fica espantada com isso. Aliás, fala com essa tia sobre o amor e confia muito nela.



Resumindo, Anne with an E é uma série adorável, emocionante e inspiradora. É uma ode aos que amam as palavras, aos que têm como super-poder a imaginação e aos que sentem que não têm um lugar no mundo, mostrando que essas mesmas pessoas, na realidade, podem construir o seu próprio lugar. Aborda temas essenciais com seriedade e de forma educativa, entretendo ao mesmo tempo. É ideal para quem ama livros e acredita no poder das histórias e da diferença. Recomendo vivamente a sua visualização.


Classificação: 5/5 estrelas.





Trailer da primeira temporada com legendas portuguesas.





Na minha opinião, fevereiro tem lançamentos nacionais mais interessantes do que o mês anterior. Aliás, até já comprei um dos livros que irei mencionar!



Isto só acontece nos filmes, de Holly Bourne, é um romance contemporâneo Jovem Adulto sobre Audrey, uma rapariga que não gosta de pieguices e de falar sobre o amor, e Harry, um aspirante a realizador de cinema que adora todos os clichês de filmes românticos. É quando Audrey começa a trabalhar num cinema local que ela conhece Harry, o que não é bom para ela. Ou, talvez, até seja!


Foi publicado pela Topseller e está nas livrarias desde o dia 3 de fevereiro.



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Sinopse retirada do site da Topseller.



O livro seguinte é um romance histórico português baseado em factos verídicos. A Assassina da Roda, de Rute de Carvalho Serra, é sobre a última mulher a ser executada em Portugal. Luiza de Jesus foi acusada de assassinar 33 crianças. Quem será realmente esta mulher? Porque terá ela cometido crimes tão horrendos?


Foi editado pela Guerra e Paz e lançado no dia 4 de fevereiro.


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Sinopse do site da Guerra e Paz.



Por fim, temos um romance de Fantasia que está na minha wishlist desde que soube que esta autora iria publicar um livro novo. Erin Morgenstern é a autora d'O Circo dos Sonhos, um dos melhores livros que já li em toda a minha vida. Quando soube que ela iria, finalmente, publicar uma história nova, fiquei muito contente!
Um Mar Sem Estrelas dá-nos a conhecer um lugar, o Mar Sem Estrelas, com um labirinto de túneis e quartos repletos de histórias. Pode ser difícil lá chegar, pois algumas portas estão bem escondidas, mas quem procura irá conseguir encontrar uma. Zachary Ezra Rawlins anda a procura da sua porta, apesar de não saber disso. De repente, depois de começar a ler um livro misterioso sobre cidades perdidas, prisioneiros que procuram o amor e acólitos sem nome, descobre que a história da sua infância encontra-se escrita nesse livro.
Zachary, através de uma abelha, uma chave e uma espada impressas no livro, conhece duas pessoas: Mirabel e Dorian. Esses estranhos irão levá-lo a bailes, salões clandestinos e a uma sociedade secreta através da qual Zachary descobrirá a entrada para o lugar que ele sempre desejara ver. O que irá ele descobrir?

Foi editado pela Casa das Letras e foi lançado hoje, dia 18 de fevereiro.



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Sinopse da Casa das Letras.



O que acham destes lançamentos de fevereiro em Portugal?



A Fórmula do Amor, um romance contemporâneo adulto escrito por Helen Hoang, conta a história de Stella, uma mulher jovem inteligente e bem-sucedida cujo emprego tem a ver com algoritmos criados para prever as compras dos consumidores. Apesar do bom emprego, a mãe de Stella gostaria de a ver numa relação. Stella também gostaria de ter um namorado, mas acha que é péssima em relações. Para entender melhor como estar num relacionamento, a protagonista decide contratar um acompanhante, Michael Phan, para lhe dar lições sobre como ser uma boa namorada.
Stella e Michael pensam que têm tudo sob controlo, mas as emoções vão agitar as sessões deles.... O que irá acontecer entre eles?



Posso dizer que esta foi uma das melhores leituras de 2019! Li-o em dois dias e poderia ter demorado apenas um dia, mas estava a gostar tanto de o ler que eu decidi que queria ir com calma e não queria despedir-me dele tão depressa. É um livro amoroso, sensual e surpreendente. 



Helen Hoang on writing The Kiss Quotient, and her autism diagnosis | EW.com
A autora e a capa americana do livro.
Fonte.


A escrita é acessível e de leitura fácil e rápida. Capta a nossa atenção rapidamente e nem tão cedo nos larga. Adorei a forma como Hoang escreveu os momentos sexuais entre Stella e Michael. A autora queria deixar claro uma coisa: é extremamente importante haver respeito nas relações. Esses momentos mais "quentes" foram escritos de uma forma sublime e entusiasmante. No geral, Hoang é mesmo muito talentosa e criou um enredo viciante.


Relativamente ao enredo, este pode não ser original. Sei que há muitos livros sobre mulheres jovens inseguras que pedem conselhos e lições a homens que sabem imenso sobre relações. No entanto, tenho a ideia de que esses livros, normalmente, acabam por transmitir ideias tóxicas e problemáticas sobre relações. Em A Fórmula do Amor, isso não acontece. Como referi anteriormente, a autora mostra que, numa relação, deve haver respeito. De facto, ao longo das "aulas" da Stella, vemos um Michael que respeita muito a mulher e ele está constantemente a dizer à protagonista que o consentimento é importante e que nenhum homem tem o direito de fazer coisas que ela não quer só pelo próprio prazer dele. 
O enredo também é rico em peripécias, momentos embaraçosos e aventuras amorosas. É uma linha narrativa que, tal como a escrita, nos cativa facilmente.


The Kiss Quotient
Fanart.
Fonte.


Por fim, quanto às personagens, o livro destaca-se pela representatividade. Por um lado, temos Stella, uma mulher que gosta do seu emprego, da sua família e da sua vida pacata. É, também, uma mulher jovem que tem síndrome de Asperger. Stella aceita isso, mas é algo que a faz sentir apreensiva quando está com um homem que pode vir a ser um namorado. Mas, ao longo do livro, ela percebe que não só há muitas pessoas na sua vida que gostam dela tal como ela é, como ela também passa a gostar um pouco mais de si própria. Acho que não é daqueles casos em que o parceiro é que mostra à outra pessoa o quão fantástica ela é mesmo ao ser diferente dos outros. Neste livro, penso que Stella é alguém que aprendeu isso à sua maneira.
Um outro aspeto de representatividade é a identidade de Michael Phan. Ele é sueco e vietnamita e, por isso, na segunda metade do livro, vemos Stella a entrar em contacto com a cultura vietnamita e a família de Michael. 
Nos EUA, é cada vez mais importante haver livros que não sejam apenas sobre pessoas brancas, católicas, heterossexuais, americanas, cis, etc. Assim, apoiam muito os livros #OwnVoices, por exemplo. A Fórmula do Amor, na realidade, é um livro #OwnVoices, ou seja, os aspetos identitários que encontramos no livro são as mesmas da autora. Hoang pensava que tinha síndrome de Asperger quando estava a escrever o livro. Agora, sabe que está no espetro do autismo. Tal como Michael, ela também é vietnamita e nasceu nos EUA.
As personalidades das personagens foram muito bem criadas. São credíveis e é fácil o leitor criar uma ligação com elas ou odiar uma ou outra. Parecem reais. Michael é o verdadeiro homem de sonho, pois compreende a importância do respeito e do consentimento e é um homem amoroso. Stella tem uma mente impressionante e é uma personagem muito interessante.


The Kiss Quotient by Helen Hoang_quote on self-acceptance
Excerto do livro.
Fonte.




Em suma, A Fórmula do Amor é a leitura perfeita para quem tem um coração mole e gosta de leituras um pouco mais "picantes". É um livro sobre o amor, o consentimento, o respeito e a diferença como algo positivo. É uma ótima leitura para quem gosta de celebrar o dia de hoje, o Dia de São Valentim.


Classificação: 5/5 estrelas.




"Possua sua história". #LittleWomenMovie #AdoráveisMulheresFilme, breve nos cinemas.
Um dos cartazes oficiais da nova adaptação de Mulherzinhas.
Fonte.

Em 1868, Louisa May Alcott viu o primeiro volume do seu romance, Mulherzinhas, a ser publicado. O segundo e último volume foi lançado no ano seguinte. Rapidamente, tornou-se num sucesso comercial, foi bem recebido pela crítica e passou a ser adorado por muitos leitores. Aliás, muitos acabaram por "exigir" mais histórias sobre as personagens. Posteriormente, Alcott acabou por publicar sequelas, Boas Esposas, Little Men e Jo's Boys. Além disso, o seu primeiro romance já foi várias vezes adaptado como filme e como peça de teatro. Recentemente, Greta Gerwig realizou um filme baseado no livro, tendo também escrito o guião


A história foca-se nas irmãs March: Jo, Meg, Beth e Amy. Jo quer ser uma escritora independente e lutar contra uma sociedade patriarcal que não deixa a mulher ser dona de si mesma. Meg é mais romântica, quer ser atriz e casar por amor. Beth é uma menina muito simples e introvertida que adora tocar piano, sendo, no entanto, um pouco frágil. Por fim, Amy é uma moça irrequieta e, ao contrário de Beth, é muito extrovertida. Portanto, todas elas têm idades, sonhos, vocações e vidas diferentes.

Um dia, Jo e Meg conhecem Laurie, um rapaz que já estudou na Europa e vive com o avô. É a partir quando Meg torce o pé e é socorrida por Laurie, que leva as duas irmãs para casa, que nasce uma amizade bonita entre ele e a família March.

Entretanto, seguimos as peripécias das meninas March, como o drástico corte de cabelo de Jo, a amizade bonita e paternal entre Beth e o avô de Laurie e a ida de Amy para França para estudar Arte e ser pintora. Apesar de todos estes momentos divertidos, delicados e bonitos, a história, na realidade, também é muito triste, havendo mortes, amores não correspondidos e dificuldades financeiras. Ainda assim, é uma história magnífica e linda sobre o poder feminino, o sonho, o amor pela escrita e a resiliência durante e após a Guerra Civil americana.


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Capa de uma das suas mais recentes edições portuguesas. Mulherzinhas faz parte de uma nova iniciativa da Porto Editora relacionada com clássicos para os mais jovens.



Relativamente ao filme, na minha opinião, ele está muito bem feito e bem conseguido. A história de Louisa May Alcott sempre foi vista como uma história intemporal, ou seja, ainda hoje, muitos leitores gostam de ler e conhecer estas personagens e têm sentimentos profundos por elas. Greta Gerwig modernizou-a ainda mais com as suas críticas sociais relacionadas com o feminismo e com um mundo que parece querer destruir os sonhos e a criatividade dos mais jovens.

Também inovou esta história ao transformá-la num enredo não linear, isto é, o filme faz paralelismos entre o passado e o presente das personagens. Nós não seguimos a ação através da passagem do tempo. Por exemplo, a cena da abertura consiste na ida de Jo à editora para tentar vender uma história para, depois, poder enviar algum dinheiro para casa, o que significa que ela já não é uma adolescente, mas sim uma jovem mulher.

Como foram feitos estes paralelismos? Gerwig usou uma técnica visualmente muito bonita e simbólica. Usou as cores quentes nas cenas do passado e cores frias nas cenas do presente. Para mim, é uma das melhores coisas deste filme devido à sua carga simbólica. No passado, vemos as irmãs March como raparigas felizes e cheias de sonhos e energia. Por isso, o cenário é belo e adornado por cores como o laranja, o amarelo, o vermelho, entre outras cores quentes. Aqui, são cores que simbolizam a alegria, a inocência e a capacidade de sonhar, elementos associados à infância e à adolescência. Já no presente, quando já são mais velhas e deixaram de ser crianças inocentes que passavam os dias a imaginar, temos o azul e o cinzento. Representam a realidade dura da vida adulta. É uma fase da vida em que as March enfrentam o dilema do útil vs. o sonho. É também a altura em que elas têm de deixar de prestar atenção aos seus verdadeiros desejos e aos seus talentos, pois precisam de trabalhar e ganhar dinheiro. Não é uma técnica nova, mas gostei imenso do seu uso na mesma. 



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A diferença das cores não está presente apenas no cenário. As roupas das personagens também foram uma outra técnica de contrastar o passado alegre com o presente triste. Na imagem de cima, as irmãs usam roupas coloridas. Já na imagem seguinte, usam vestidos sóbrios.
Fonte da primeira imagem.
Fonte da segunda imagem.


Um outro aspeto positivo do filme é a interpretação brilhante de Florence Pugh como Amy March. Foi a pessoa que mais se destacou, o que é uma surpresa, pois a atenção, normalmente, vai para Jo e a atriz que a interpreta. Saoirse Ronan foi uma Jo excelente e é muito talentosa, mas Florence deu-nos uma outra Amy, algo que também foi possível graças à escrita de Greta Gerwig. Pugh disse que não queria interpretar uma Amy má e Gerwig, realmente, criou uma Amy mais complexa. Pugh mostrou muito bem a infantilidade de Amy, bem como a sua maturidade ao tornar-se mais velha. Gerwig também acrescentou algumas características que, na realidade, estão sempre associadas à Jo. Neste filme, Amy critica severamente uma sociedade que não a deixa fazer escolhas por ela própria e que não a deixa ser dona de algo. Além disso, ela mostra como a mulher deve respeitar-se a si própria quando recusa o pedido de casamento de uma personagem que antes amava Jo. Amy não quer ser vista como uma segunda Jo, pois não o é. Amy é Amy. Cada uma destas mulheres tem a sua própria personalidade e elas vivem e lutam para terem o seu próprio lugar no mundo.


Florence Pugh como Amy March.
Fonte.

Quanto às restantes atrizes que interpretaram as outras irmãs, como já disse, Saoirse foi uma Jo fantástica. Mostrou muito bem a vivacidade e o lado destemido de uma rapariga que apenas quer ser escritora e que acha que, para triunfar, não deve casar-se, mudando de ideias posteriormente. Emma Watson também foi muito boa como Meg. Há quem diga que ela já não é tão boa atriz como nos tempos de Harry Potter, mas acho que ela mostrou uma outra garra neste filme ao interpretar algo que é muito discutido no feminismo, que é a possibilidade de a mulher escolher a vida de mulher casada e com filhos e não ser julgada por isso. Eliza Scanlen interpretou Beth de uma forma muito doce e deu uma outra luz a uma personagem que, normalmente, não é muito admirada.


mademoisellelapiquante:    Saoirse Ronan as Jo... - misplaced joan of arc
Saoirse Ronan como Jo March.
Fonte.

Apesar de ter adorado imenso a adaptação de Gerwig, penso que o filme tem alguns aspetos negativos. Por exemplo, deveria ter sido um pouco mais longo. Soube a pouco. As personagens foram bem exploradas, mas, ainda assim, parece que tudo aconteceu tão depressa. Gostava, ainda, de ter visto um pouco mais de Marmee (interpretada por Laura Dern) e da tia March (interpretada por Meryl Streep). Elas dariam outras perspetivas femininas ao filme, mas as mesmas praticamente não foram desenvolvidas.


Em suma, a adaptação de 2019 de Mulherzinhas é uma bela crítica social que nos deleita e nos faz refletir sobre o feminismo e a sociedade patriarcal que ainda hoje temos. É uma adaptação com umas pinceladas contemporâneas e, assim, Gerwig, tal como Alcott, conseguiu fazer um filme igualmente intemporal. É um filme cheio de mensagens e lições para miúdos e graúdos. Faz-nos pensar em como vivemos numa sociedade onde não podemos sonhar e deixar brilhar os nossos verdadeiros talentos, sendo necessários deixá-los de parte para tentarmos ter uma vida decente. Como podemos realmente viver se não podemos, na verdade, concretizar sonhos que, infelizmente, podem não garantir uma vida melhor, mas que nos tornam em pessoas felizes? Aconselho vivamente a sua visualização.


Classificação: 4/5 estrelas.




Trailer com legendas em português.




Relativamente a livros em inglês, eu pensava que iria encontrar mais lançamentos do meu interesse. De facto, no mês passado, publicaram livros com muito potencial, mas muitos deles são sequelas de livros publicados no ano passado ou há dois anos e que eu nunca li. Ainda assim, encontrei dois livros que me deixaram curiosa.


Dark and Deepest Red, de Anna-Marie McLemore, é um livro de Realismo Mágico baseado em epidemias de dança na época medieval e numa história de Hans Christian Andersen, Os Sapatinhos Vermelhos. No livro de McLemore, em 1518, Estrasburgo é atacado por uma doença que faz as mulheres dançar. Algumas até acabam por morrer. Rumores de bruxaria surgem e muita gente culpa a família de Lavinia, que terá de fazer o inimaginável para salvar-se a si própria e a todos os que ama. Séculos depois, Rosella usa uns sapatos vermelhos que a fazem dançar sem conseguir controlar-se. Por causa dos sapatos, conhece um rapaz, Emil, cuja família foi acusada de causar o mesmo problema em Estrasburgo. No entanto, há muito mais por descobrir sobre o que aconteceu em 1518 e desvendar a verdade será essencial para que Rosella sobreviva.

Foi publicado pela Feiwel & Friends no dia 14 de janeiro.



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Sinopse original.


Por fim, temos um romance YA contemporâneo. Don't Read the Comments, de Eric Smith, é uma história sobre dois jovens que adoram jogos online. Divya Sharma, ou, como é conhecida, D1V, é uma rapariga que faz streaming quando joga Reclaim the Sun e, ao mesmo tempo, através do jogo, tenta arranjar patrocínios para ajudar a mãe a pagar a renda. Aaron Jericho também adora jogar, o que deixa a mãe frustrada, pois ela queria que ele estudasse medicina. No seu tempo livre, Aaron faz parte da escrita de jogos numa empresa local. De repente, quando ele entra em contacto com Divya no jogo, Reclaim the Sun fica cheio de trolls (pessoas que maltratam ou gozam com outras na Internet). Surge, assim, o Vox Populi, um grupo que pretende desvendar as identidades dos jogadores, colocando em risco a vida real de Divya e o sonho de Aaron. Como irão eles enfrentar esta ameaça dentro e fora do jogo?

O livro foi lançado pela Inkyard Press no dia 28 de janeiro.



Don't Read the Comments
Sinopse original.



São livros com temáticas e universos muito diferentes, mas ambos são muito interessantes, não acham?



A partir de agora, mensalmente, irei mencionar livros que gostaria de comprar e que foram lançados num determinado mês em Portugal. Isto não significa que vou comprar todos, o que seria espetacular. É apenas uma forma de divulgar livros, principalmente aqueles que têm a ver com os meus gostos pessoais.

O mundo editorial português não aposta tanto quanto isso nos primeiros três ou quatro meses do ano, digamos assim. Vão ver que o catálogo será um pouco mais cheio e diversificado nos meses do tempo mais quente. Claro que isso não significa que é impossível termos livros interessantes nesta altura do ano. Aliás, em qualquer mês, há sempre alguma coisa para toda a gente. Em janeiro, houve três lançamentos que me deixaram curiosa.


Em primeiro lugar, temos Fernando Pessoa - O Romance, de Sónia Louro. Na realidade, é uma reedição e, desta vez, é um livro de bolso. É um romance biográfico que, graças a uma pesquisa meticulosa, inclui a vida do poeta em África do Sul, a fundação de Orpheu e o amor de Pessoa por Ophélia Queiroz.


Foi lançado pela Saída de Emergência e chegou às livrarias no dia 17 de janeiro.


A imagem pode conter: uma ou mais pessoas, texto e ar livre
Sinopse.



De seguida, temos E se formos nós, de Adam Silvera e Becky Albertalli. É um romance jovem adulto contemporâneo sobre dois rapazes que, um dia, se cruzam. Arthur está em Nova Iorque e acredita que, tal como acontece nos musicais de Broadway, irá encontrar o amor da sua vida na grande cidade americana. Já Ben não acredita no amor e não queria nada ir aos correios para enviar os objetos pessoais do seu ex-namorado. Muito diferentes, não acham? O que irá acontecer depois de se cruzarem?

Foi lançado pela Topseller e chegou às lojas no dia 20 de janeiro.


E se Formos Nós
Edição portuguesa.
Sinopse.


Por fim, temos Corpos Celestes, de Jokha Alharti. É um romance que narra a vida de três irmãs que vivem numa aldeia em Omã. Mayya casa-se depois de um desgosto amoroso, enquanto Asma casa-se por obrigação. Khawla rejeita todas as propostas, pois está à espera do seu amado, que emigrou para o Canadá. Ao mesmo tempo, o livro explora o desenvolvimento de Omã e uma sociedade tradicional e esclavagista, não esquecendo a era pós-colonial e o presente complexo. No ano passado, venceu o prémio Man Booker International Prize.

Foi lançado pela Relógio d'Água e chegou ao mercado no dia 27 de janeiro.


A imagem pode conter: texto
Sinopse.


O que acham destes lançamentos de janeiro?