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A Biblioteca da Daniela

A Biblioteca da Daniela

A publicação de hoje é sobre três lançamentos de agosto que estão na minha wishlist.

 

Em primeiro lugar, temos um dos grandes livros de não-ficção dos últimos tempos: Porque Deixei de Falar com Brancos sobre Raça, de Reni Eddo-Lodge, com prefácio de Mamadou Ba. "Examinando desde a história negra erradicada até à política dominada por uma agenda branca, passando pelo feminismo branqueado e pela inextricável ligação entre classe e raça, Reni Eddo-Lodge oferece um novo quadro oportuno e essencial para reconhecer e combater o racismo.

Uma exploração candente, esclarecedora e absolutamente necessária do que é ser hoje uma pessoa de cor na Grã-Bretanha e no mundo e um manual essencial para quem procura compreender como funciona o racismo estrutural e o privilégio branco".

Foi lançado pela Edições 70 (Almedina) a 5 de agosto.

 

Bertrand.pt - Porque Deixei de Falar com Brancos sobre RaçaBertrand.
Wook.

 

 

Depois, temos um romance romântico contemporâneo de uma autora cujo primeiro livro, A Fórmula do Amor, já foi publicado cá. Em Noiva à Experiência, de Helen Hoang, "o amor não precisa de palavras… Khai Diep não tem sentimentos. Ou melhor, não consegue experienciar aqueles que são verdadeiramente importantes, como a dor ou o amor. Está convencido de que, de alguma forma, tem algo de errado. Contudo, a sua família sabe o que se passa - o autismo do jovem leva-o a processar as emoções de maneira diferente. Como Khai rejeita sistematicamente os relacionamentos, a sua mãe decide resolver o problema e voltar ao Vietname para lhe encontrar a esposa perfeita.

Esme Tran sente-se deslocada em Ho Chi Minh. A sua vida nem sempre foi fácil, pelo que, quando surge uma proposta de viajar para os Estados Unidos para conhecer um potencial marido, ela aproveita a oportunidade. No entanto, seduzir Khai tem os seus desafios, e as lições de amor de Esme parecem funcionar apenas com ela. A jovem está perdidamente apaixonada por um homem que acredita que nunca será capaz de retribuir o afeto de uma mulher.

Será Khai capaz de superar os limites do seu coração e compreender que existe mais do que uma forma de amar?"

 

Foi editado pela Chá das Cinco (Saída de Emergência) e foi publicado a 12 de agosto.

 

Bertrand.pt - Noiva à ExperiênciaBertrand.
Wook.

 

 

Por fim, temos uma das maiores novidades editoriais portuguesas do ano: Penguin Clássicos. Finalmente, temos as famosas edições baratas de clássicos com estilo da editora internacional Penguin Random House! Nesta primeira fase, lançaram sete títulos, mas pretendo realçar um que já encomendei: O Livro de Cesário Verde e Outros Poemas, de Cesário Verde, com prefácio de Paula Mourão. "É de 1887 a publicação de um dos mais belos e importantes livros de poesia em língua portuguesa. No ano anterior, 1886, morria, aos 31 anos, o seu autor, vítima de tuberculose e da maior incompreensão e desprezo dos seus pares. Cesário Verde, o homem que viu poesia na sujidade das ruas, no corpo doente da engomadeira, na azáfama dos trabalhadores, revolucionou o cânone e impôs uma nova forma de olhar o real, de o descrever e sentir.

Entre a cidade e o campo, o caos e a liberdade, o idílio e a realidade, emerge em Cesário uma nova sensibilidade, transgressora, que privilegia os sentidos e as impressões do quotidiano em detrimento de um sentimentalismo exacerbado que sentia já distante, imposição de uma consciência social preconizadora de um final de século turbulento.

Chegaria tarde demais para Cesário o reconhecimento do seu génio e do seu papel determinante na história da poesia portuguesa. Mas não seria tarde demais para quem, graças ao trabalho e dedicação do seu amigo Sousa Pinto, pôde ler os inigualáveis poemas de um dos maiores poetas de língua portuguesa e compreender o alcance da modernidade e inventividade dos versos daquele a quem Fernando Pessoa chamaria mestre".

 

Os sete títulos foram publicados pela Penguin Random House Grupo Editorial a 24 de agosto.

Para saberem mais sobre esta nova iniciativa da Penguin, cliquem aqui.

 

Bertrand.pt - O Livro de Cesário Verde e Outros PoemasBertrand.
Wook.

 

 

Por agora, é tudo. Até breve!

 

 

Nos EUA, agosto ficou marcado por livros YA muito interessantes, havendo de tudo um pouco!

 

Em primeiro lugar, temos The Wild Ones, de Nafiza Azad, um livro YA de Fantasia feminista sobre um grupo de raparigas adolescentes dotadas de poderes especiais que devem juntar-se para salvar a vida de um rapaz cuja magia salvou-as.

Nós somos as Wild Ones e não seremos silenciadas.

Nós somos as raparigas que já experimentaram o pior que este mundo pode dar. A nossa história começa com Paheli, que já foi traída pela sua mãe, vendida para um homem em troca de um favor. Quando Paheli escapou, ela chocou com Taraana, um rapaz com estrelas nos olhos, um rapaz tão maltratado quanto ela. Ele atirou a Paheli uma caixa de estrelas antes de desaparecer. Com as estrelas, Paheli ganhou acesso ao Between, um lugar de magia pura e mistério. Agora, Paheli junta raparigas como nós e nós usamos a nossa magia para viajar pelo mundo, ajudando a salvar outras raparigas da nossa dor, das nossas cicatrizes.

Quando Taraana reaparece, ele pede ajuda. Forças mágicas perigosas perseguem-no e elas irão destruí-lo para ficarem com os poderes dele. Nós faremos tudo para o salvar - se conseguirmos. Se Taraana já não está seguro e livre, Wild Ones também não estão. E isso... é um fado que recusamos aceitar.

 

Foi lançado pela Simon & Schuster a 3 de agosto.

 

The Wild OnesSinopse original.

 

 

A seguir, no mesmo dia, a Random House USA Inc. publicou A Lesson in Vengeance, de Victoria Lee. Neste romance YA de Fantasia, que também é um thriller, a história da Dalloway School vive nos ossos sobre os quais foi construída. Cinco mortes violentas nos primeiros dez anos da sua existência. Às vezes, é ainda possível sentir o cheiro do sangue no ar.

Só foi na candidatura que Felicity apaixonou-se pela escuridão. E agora ela está de volta para terminar o seu último ano depois da morte trágica da sua namorada. Ela até tem o seu antigo quarto na Godwin House, o dormitório exclusivo que, segundo os rumores, está almadiçoado pelos espíritos das cinco estudantes de Dalloway que lá morreram. Alguns dizem que as raparigas eram bruxas.

É o primeiro ano de Ellis Haley. Um prodígio literário aos 17 anos, Ellis é excêntrica e brilhante e Felicity não consegue ficar afastada dela. Portanto, quando Ellis pede ajuda na pesquisa sobre as Cinco de Dalloway para o seu segundo livro, Felicity não consegue dizer não.

A tradição oculta de Dalloway está em todo o lado e a nova rapariga não fará com que Felicity se esqueça disso. Mas quando o passado começa a invadir o presente, Felicity precisa de tomar uma decisão. O solo debaixo dos seus pés tem o sangue da história de Dalloway, assim como o presente. Será Dalloway ou ela?

 

A Lesson in VengeanceSinopse original.

 

 

O próximo lançamento é um YA Contemporâneo de uma escritora brasileira. Em Like a Love Song, de Gabriela Martins, Natalie está a viver o seu sonho: está a ocupar os lugares do topo e a criar recordes enquanto pop star brasileira... Até ser deixada pelo namorado em plena televisão ao vivo. Não só é humilhante, como também pode acabar com a carreira dela.

Qual é o plano desesperado da sua equipa de Relações Públicas? Um namorado lindo, mas falso. Nati aceita o plano relutantemente, mas William não é o que ela estava à espera que ele fosse. Ela pensava que ele seria um bad boy ardente, não uma estrela britânica de filmes independentes com um coração mole. Enquanto ela luta para regressar ao topo com um doce rapaz que surpreendentemente pode fazer alguém desmaiar, ela começa a apaixonar-se por William e percebe que talvez ela própria seja a pessoa mais falsa de todas. Poderá ela recuperar a sua voz e o seu coração?

 

Foi publicado pela Random House USA Inc. a 3 de agosto.

 

Like a Love SongSinopse original.

 

 

Depois, a 17 de agosto, a Bloomsbury Publishing PLC lançou How We Fall Apart, de Katie Zhao. Neste thriller contemporâneo YA, Nancy Luo fica chocada quando a sua antiga melhor amiga, Jamie Ruan, estudante júnior com a melhor classificação em Sinclair Prep, desaparece e, depois é encontrada morta. Nancy fica ainda mais chocada quando começam a dizer que ela e os seus amigos - Krystal, Akil e Alexander - são os suspeitos principais graças ao Proctor, alguém que anonimamente anda a incriminá-los através da rede social da escola.

Todos eles costumavam ser amigos próximos de Jamie e ela sabia os segredos mais escuros e profundos de cada um. Agora, de alguma forma, Proctor também sabe. Os quatro devem descobrir quem é o verdadeiro assassino antes que Proctor exponha mais do que eles possam aguentar e sacrificar, como a bolsa de estudos completa de Nancy. Em breve, Nancy suspeita que os seus amigos poderão estar a manter segredos dela também.

 

How We Fall ApartSinopse original.

 

 

Por fim, temos Bad Witch Burning, de Jessica Lewis. Katrell consegue falar com os mortos e ela queria que isso desse mais dinheiro. Ela tem sido capaz de apoiar a sua mãe desempregada e o namorado caloteiro dela, mas não é o suficiente. Para complicar as coisas, Katrell começa a receber atenção não deste mundo, mas do além. E isso vem com um aviso: PARA ou haverá consequências.

Katrell está disposta a achar que os fantasmas estão a fazer bluff. Ela não tem escolha. O que sabem os fastamas sobre ter sono como comida? Mas quando a sua próxima convocação acidentalmente levanta alguém dos mortos, Katrell percebe que um corpo vivo vale mais do que uma aparição de um morto. E, com ou sem aviso, ela não tem intenção de largar este novo negócio lucrativo.

Mas a magia não é gratuita e forças obscuras aparecem. Agora, Katrell deve fazer uma escolha: resignar-se à pobreza ou confrontar a escuridão antes que seja tarde demais.

Foi lançado ontem pela Random House USA Inc.

 

Bad Witch BurningSinopse original.

 

 

Por agora, é tudo. Até breve!

 

 

Primeiro, deve-se saber o que é o género. Segundo Vítor Aguiar e Silva, os géneros literários “são constituídos por códigos que resultam da correlação peculiar de códigos fónico-rítmicos, métricos, estilísticos, técnico-compositivos, por um lado, e de códigos semântico-pragmáticos, por outra parte, sob o influxo e o condicionalismo de determinada tradição literária e no âmbito de certas coordenadas socioculturais.” (Aguiar e Silva, 2011: 390). No artigo “The Problematics of Categorizing Young Adult Fiction as Genre”, a autora usa as ideias de Todorov, que diz que os géneros existem como “horizontes de expectativa” para os leitores, mas funcionam como “modelos de escrita” para autores: “As a model of writing, genre can thus guide the writer’s work and dictate some aspects of the end result: and as a horizon of expectation, genre can exert power in the reading process, inviting a reader to extract meanings pertaining to the conventions of the genre.” (Risku, 2017: 9).
 
Graças a estas definições, já se pode ver como YA, na realidade, não é um género. É verdade que um livro, para ser categorizado como YA, deve seguir certos traços e, portanto, corresponder a um padrão determinado por quem estabeleceu a ideia de YA. Por exemplo, nestas histórias, verifica-se que as personagens, na sua maioria, são adolescentes. São contadas pelo ponto de vista de um indivíduo jovem e, muitas vezes, o narrador é omnisciente. O protagonista, devido a diversas circunstâncias, deve enfrentar os seus problemas de forma independente, não contando com a ajuda dos pais ou de outros adultos, que, várias vezes, nem sequer existem ou não estão constantemente presentes. Em termos formais, a escrita, normalmente, é simples, fluída e não muito descritiva, transmitindo uma sensação de rapidez alucinante e a ideia de espírito jovial, ou seja, a ação desenvolve-se rapidamente e parece haver muita adrenalina até ao último parágrafo. 
 
 
12 Essential Nonfiction Graphic Novels for Kids and Teens | School ...
Fonte.

 


Todavia, não se dá muita importância ao veículo da história. Também, quanto à forma, não há nenhum padrão a seguir, isto é, não interessa se a história é contada através do romance, de versos ou de uma peça de teatro. Valoriza-se mais a história e as mensagens que se pretende transmitir. Não se dá especial atenção a traços estilísticos ou a códigos “técnico-compositivos”. A partir das afirmações de Aguiar e Silva, apenas se pode dizer que o YA depende “de certas coordenadas socioculturais”, que são fundamentais para a definição desta categoria. Há todo um leque de problemas socioculturais bem vincados no YA, como o racismo, a xenofobia, a homofobia, etc. Quanto a códigos “semântico-pragmáticos”, será rebuscado mencionar que deve haver uma linguagem própria do adolescente aquando da escrita de um livro YA, mas não se segue nenhuma tradição literária, a não ser quando vemos muitas adaptações de livros clássicos para jovens, como um reconto do Frankenstein ou do Drácula. Mas não é a isto que se refere o estudioso português. De facto, não dá para ver o Young Adult como um género literário. Não há uma teoria estabelecida. Não se segue literalmente um padrão, quer formal, quer em termos de conteúdo. Não se dá importância a regras. O que interessa é que o autor tem uma história para contar e vai contá-la tendo em mente que o seu público é o leitor adolescente.
 
 
Debut Author Elizabeth Acevedo on 'The Poet X'
The Poet X, de Elizabeth Acevedo, é um dos grandes sucessos no mundo dos livros YA em verso.
Fonte.
 
 
Posto isto, o Young Adult, na realidade, remete mais para a idade do leitor. Foi um termo criado por bibliotecárias que perceberam que os adolescentes queriam listas de livros para ler a seguir ou pela primeira vez. Foi, entretanto, desenvolvido pelo mercado editorial e pelas livrarias. Hoje em dia, não é nada mais do que uma resposta à necessidade de organizar os livros conforme as idades dos leitores, sendo também um termo usado pelo departamento de marketing das editoras (para atrair, através desta categorização genérica, os leitores desejados e obter lucro) e pela organização das livrarias (que devem compor as suas estantes em secções com livros semelhantes). O Young Adult mostra, então, o poder e a influência que o mundo editorial tem sobre o estudo da literatura ao ponto de fazer as pessoas analisarem o YA e verem se é mesmo um género ou não.
 
Um outro aspeto que prova que o YA é uma designação baseada nas idades são os temas tratados neste tipo de livros. Como já foi referido, estes livros focam-se principalmente nos desafios vividos pelos adolescentes numa altura de transição (de criança para adulto). Devido a esta dualidade, há outras dualidades que são exploradas, como a vida e a morte, a humanidade e a falta dela, o Eu e o Outro, etc. Quem analisa o YA identificou estes temas como aqueles que caracterizam esta categoria. Todavia, não existirão estes temas também na ficção adulta? Ou até mesmo na ficção infantil, mas tratados de forma mais leve? Ainda na vida adulta, o indivíduo continua a sentir a necessidade de procurar e/ou desenvolver a sua identidade, o que quer dizer que isto não acontece somente na adolescência. Portanto, será suficiente dizer que um livro faz parte do YA só por tratar temas que, na realidade, são recorrentes em toda a literatura? Ou seja, é difícil usar algo tão geral numa categoria tão específica. Estes tópicos não pertencem apenas ao YA e, por isso, ao falar sobre este tipo de livros, não podemos usar a presença desses temas como o fator que classifica um livro como YA. 
 
 
 
A Not-So-Young Audience for Young Adult Books - The New York Times
O público-alvo do YA é o adolescente, mas os mais velhos também podem ler livros YA.
Afinal, esta categoria aborda imensos temas universais.
Fonte.
 
 
Por fim, um dos problemas maiores desta designação é a confusão das idades que servem como limites do YA. As próprias editoras são uma das “culpadas”, criando categorias como “8 aos 12 anos”, “10 aos 14 anos” e “12 para cima”. Realmente, talvez seja melhor existir mais divisões do que apenas a divisão do YA, até porque um adolescente de 12 anos poderá não querer ou conseguir ler um livro que é mais adequado para um adolescente de 17 ou 18 anos, assim como um adolescente de 18 anos não irá querer ler um livro mais adequado para um adolescente de 13 anos. Além disso, fora do mundo editorial, em relação ao estabelecimento de limites de idade para YA, há muitas divergências, havendo quem ache que o YA é para os leitores dos 11 aos 18 anos e outros que acreditam que os limites são dos 12 aos 19 anos, etc. 
 
Concluindo, o Young Adult não pode ser visto como um género literário, pois não cumpre os requisitos requeridos pela teoria literária quanto à existência de géneros literários. É, na realidade, uma categoria útil para separar os livros para adolescentes da ficção infantil e da ficção adulta. Mesmo assim, a categoria apresenta características não muito bem fundamentadas, principalmente no que toca às idades que variam de editora para editora, de escritor para escritor, de leitor para leitor, etc.    
 
 
 
 

Já estamos na segunda metade de agosto, ou seja, está na hora de divulgar as leituras de setembro do Read with Daniela!

 

Irei apresentar-vos primeiro a leitura em inglês, que é um romance histórico misterioso jovem-adulto. Estou a falar de The Forest of Stolen Girls, de June Hur. Este livro tem como cenário Joseon (Coreia), em 1426. A família de Hwani nunca mais foi a mesma desde que ela e a irmã mais nova desapareceram e foram, mais tarde, encontradas inconscientes numa floresta perto de um local de crime macabro. Anos mais tarde, o Detetive Min, pai de Hwani, descobre que 13 raparigas desapareceram recentemente na mesma floresta que quase roubou as suas filhas. Ele viaja até à terra natal deles na ilha de Jeju para investigar... Mas desaparece também.
Determinada a encontrar o seu pai e a resolver o caso que destroçou a sua família, Hwani regressa a casa para seguir o rasto. Ao investigar os segredos da pequena vila, e ao encontrar-se com a sua irmã, Maewol, Hwani percebe que a resposta pode estar nas suas próprias memórias enterradas relacionadas com o que aconteceu na floresta há anos.

Setembro é praticamente o início dos tempos mais assombrosos, apesar de o verão terminar apenas nas últimas semanas desse mês. No entanto, muitas pessoas já têm a vontade de sentir o ar outonal e a sua atmosfera misteriosa e penso que este romance é o ideal como primeiro contacto com essas vibes nebulosas e misteriosas.

 

Gatilhos/Trigger warnings: Abuso infantil; morte; luto; rapto; mutilação; envenenamento; assédio sexual (referenciado); escravatura; suicídio (mencionado); homicídio.

 

The Forest of Stolen GirlsBertrand (capa dura);
Book Depository (capa dura);
Blackwell's (capa dura).

 

 

A seguir, temos a leitura em português, que é... Matilde e a Cidade das Portas Mágicas, de Patrícia Furtado! Neste livro infantojuvenil de Fantasia, Matilde tem 10 anos e vive numa terra distante com os pais e com Fred, o seu melhor amigo, um furaleão curioso e muito inteligente que a segue por todo o lado. Ela podia ser uma menina completamente normal, não fosse o facto de ser uma bruxa (das boas) e ótima condutora de vassouras.
Um dia, vai para a cidade viver com a tia, uma bruxa das grandes, para estudar numa escola supostamente normal… mas que esconde muitos segredos. Matilde é esperta, rápida, tem bom coração e uma enorme incapacidade de ficar calada perante as injustiças. Com ela, vais viver muitas aventuras e descobrir feitiços incríveis. E vais querer um furaleão só para ti!

 

Pois é, mais uma vez, escolhi um infantojuvenil como leitura em português! Desta vez, é de uma autora e ilustradora nacional. Já está há algum tempo na estante e pensei que setembro seria o mês ideal para ler este livro. Tendo em conta que é o mês do regresso às aulas, este livro será uma boa aventura para os miúdos e os graúdos poderão fazer-lhes companhia, claro!

 

Bertrand.pt - Matilde e a Cidade das Portas Mágicas
Bertrand (capa mole);
Wook (capa mole);
Almedina (capa mole);
RELI/livrarias independentes.


 

 

 

Por agora, é tudo. Até breve!

 

 

Bertrand.pt - Sadie

 

Gatilhos/Trigger warnings: Abandono; morte; depressão; drogas; família disfuncional; perda de um membro da família; homicídio; pedofilia; violação; abuso sexual de uma criança; violência.

 

Sadie, de Courtney Summers, é um thriller jovem-adulto sobre Sadie Hunter, de 19 anos, que desapareceu em busca de vingança. À medida que seguimos as suas pisadas, também "ouvimos" West McCray, um radialista que tem um podcast sobre true crime e foi contactado por uma desconhecida para localizar Sadie. No início, West não valorizou muito a situação, mas o desaparecimento de Sadie, afinal, tem aspetos insólitos.

Primeiro, não era uma fugitiva qualquer. Tem gaguez, foi abandonada pela mãe e viu o seu mundo desmoronar quando a irmã mais nova foi brutalmente assassinada. A polícia é incapaz de encontrar o culpado. Terá Sadie ido à procura de justiça?

West acaba por ficar obcecado com o caso e dedica todo o seu tempo ao desaparecimento de Sadie, indo até à cidade natal da jovem para seguir o seu rasto. O que ele não esperava era que cada pista resultasse numa verdade absolutamente chocante....

 

 

Uma leitura inquietante e viciante do princípio ao fim! Violência (sexual, física, etc.) contra raparigas e mulheres. Este é um dos grandes temas deste livro. E que forma de abordar o mesmo! O livro foi tão realista e certeiro sobre como este caso seria tratado se fosse real. A falta de entreajuda e de interesse, um sistema judicial injusto e ora demasiado despachado, ora demasiado lento, a rapidez com que um caso passa de urgente para nada... É, portanto, uma leitura revoltante, mas que nos prende pelo magnífico retrato social e judicial real.

 

Comecemos pelo enredo. É de fácil compreensão e de se acompanhar. Às vezes, quando temos mais do que uma perspetiva ou um narrador, pode ser complicado ou confuso. Neste caso, isso não acontece, pois, por um lado, temos a protagonista e a sua demanda. Por outro lado, temos um radialista a investigar essa mesma demanda, mas através do seu podcast, que inclui entrevistas, telefonemas e transcrições de conversas. Portanto, estamos a falar de formas completamente diferentes de termos perspetivas igualmente diferentes. Isso foi uma técnica genial e faz com que o leitor fique preso à história, uma vez que está a seguir os passos de Sadie e está a criar as suas próprias opiniões e teorias. Ao mesmo tempo, temos o radialista, que, tal como o leitor, está a criar as suas opiniões e teorias. É mesmo extraordinário ver como o enredo acaba por se desenvolver tão bem e sem emaranhados através destes dois formatos diferentes.

Além disso, o enredo é forte e um grande soco na barriga emocional. É tudo apresentado de forma simples e o menos explícito possível, mas dá para perceber que é uma história sobre crimes sexuais, como pedofilia e abuso sexual, e morte. É pesado, é revoltante e, infelizmente, é como tantos crimes e situações da vida real. No desenrolar da ação, é impossível não sentir a fúria e a frustração de Sadie. É tudo tão cru e cruel, que o leitor acaba por sentir na sua própria pele e no seu próprio coração as emoções da protagonista e a inquietação crescente de West. É, deste modo, uma história de leitura fácil e rápida, mas dura e difícil de digerir pelos temas retratados, não sendo, no entanto, péssima por isso. Aliás, a grande mestria de Summers está no facto de ela ter um enredo pesado e uma escrita simples.

 


m o r e t h a n w o r d s — books i've read in 2019 » Sadie by Courtney...Fonte da imagem.

 

 

Por falar em escrita, esta é também direta, sem rodeios e paragens. A autora está sempre a dar mais e mais do seu talento e o leitor absorve tudo. Admira-me imenso como Summers foi capaz de contar uma história tão violenta de uma maneira tão simples e sem violência gratuita. Tudo tem um propósito. Nada serve para chocar o leitor só porque sim. O choque existe porque tudo o que é contado é real. Esta história em específico é fictícia, mas é baseada no mundo em que vivemos. É claro que choca, mas não é um susto barato como vemos em filmes de terror com crítica social péssimos. Summers foi brilhante em não ser sensacionalista. Fez tudo com humildade e respeito para com as verdadeiras vítimas. É uma escrita muito humana. De um ponto de vista literário, como disse acima, é simples, direta e cativante, não perdendo tempo com sensacionalismos e choques que não são sinceros.

 

Quanto às personagens, as que têm grande peso e mais presença são, claro, Sadie e West. As personagens secundárias são as migalhas do trilho dos crimes e, apesar de não haver nenhuma que se destaque realmente, o propósito delas é mesmo esse: não é suposto as personagens secundárias terem as suas próprias personalidades como Sadie e West. As secundárias servem como generalizações de tipos de pessoas que se envolvem em casos como este na vida real. Temos polícias e investigadores desinteressados, pessoas comuns que nem sequer querem perder tempo a responder a uma pergunta, pessoas que se aproveitam da solidão de uma rapariga, uma sociedade que não quer saber de desaparecimentos e mortes de raparigas pobres e desinteressantes. Essa também é uma grande questão do livro: como pode a sociedade querer saber tanto sobre a morte de uma criança, mas não de uma outra? Há recursos internacionais para uma Maddie, mas nem sequer há recursos locais para uma menina pobre e sem familiares como a irmã de Saddie. Essa menina pode não ser real, mas a sua situação é. Faço novamente a pergunta: como podemos, enquanto sociedade, estarmos ligados à televisão por causa de uma criança, mas desviamos o olhar quanto a uma outra?

Sadie é impulsiva, imprudente e vingativa, mas também continua a ser uma jovem. Ainda mal atingiu a idade adulta e passou a vida em sofrimento. A mãe, viciada em drogas e álcool, abandonou Sadie e a irmã, que acabaram por viver num parque de RVs sob a visão de uma vizinha. Sadie é olhada de lado devido à sua gaguez. Sempre teve de ser a adulta da casa. É possível o leitor sentir alguma irritação perante certas atitudes dela, mas será impossível não compreender os motivos? Será impossível sentir compaixão e compreender como deve ser difícil e perigoso fazer o que ela está a fazer, isto é, ir atrás do desgraçado que tornou a vida dela num inferno ao tirar-lhe a irmã da sua vida para sempre? Esta personagem complexa é fascinante e é um outro motivo que nos faz sentir presos às páginas deste livro assombroso.

West talvez sirva como uma amostra daqueles que acabam por valorizar o que a restante sociedade despreza e ignora. É preciso ter um coração sensível para deixar de pensar apenas no seu podcast e passar realmente à ação e fazer algo por duas raparigas que, até então, tinham sido invisíveis. É incrível pensar que, nos dias de hoje, o mais provável é que ele iria acompanhar tudo e fazer a investigação só mesmo para ganhar algo com isso. Mais ouvintes, mais dinheiro, mais fama. Contudo, ele realmente é um homem preocupado. Representa também aqueles que estão fartos, mas pouco surpreendidos com a maneira como a sociedade e o sistema judicial encaram crimes como estes. Ele representa aqueles que lutam contra a indiferença, a falta de profissionalismo e de interesse, e que têm como propósito genuíno entender o que se passa e tentar resolver a situação.

 

 

Fonte da imagem.

 

 

Em suma, Sadie é um thriller jovem-adulto. Alguns devem pensar: "bem, não deve ser um thriller muito bom, até porque foi escrito para os mais jovens". Não é por ser para os mais jovens que o livro não funciona como thriller. Aliás, funciona e muito bem. É um thriller cruel e cru sem ser necessário usar descrições violentas e chocantes para captar a atenção do leitor e fazer com que o leitor sinta alguma coisa, como revolta, angústia, dor e um pouco de esperança. Este livro é bom para os que acreditam que a literatura YA não presta e que é leitura de praia, leitura simplória para jovens que passam a vida no telemóvel e mais blah blah blah. A escrita é simples, mas precisa e genuína, o enredo é complexo e duro, mas de fácil compreensão e um retrato implacável dos nossos tempos, as personagens são realistas e foram criadas com muito cuidado e talento.

No fim, e só mesmo para perceberem o quão real, profundo e doloroso este livro é, o radialista diz: "Porque eu não aguento outra rapariga morta".

E então? Ainda acham que YA é simplório?

 

Classificação: 5/5 estrelas.

 

 

Até à próxima!

 

A publicação de hoje é uma apresentação de um livro que é, na realidade, a minha primeira parceria literária! O PDF do livro foi-me cedido gratuitamente para eu fazer divulgação e escrever uma opinião honesta após a leitura.

 

Cinderel, de R. C. Montenegro, é um reconto de 82 páginas da história da Cinderela. Cinderel, alcunhado Borralho, é maltratado pela madastra e os seus filhos e procura nas festas e nas máscaras um escape do seu dia-a-dia entre as cinzas das lareiras. Apenas não imaginou que chamaria a atenção do facilmente espicaçável Bernardo, e muito menos que, ao troçá-lo, troçava o seu príncipe.

 

 

https://m.media-amazon.com/images/I/41FOQSq1xhL.jpg

 

 

R. C. Montenegro, na vida real, chama-se Inês Montenegro. Criou este pseudónimo para as "histórias fofinhas e calminhas", como a própria afirmou numa conversa que tivemos sobre a parceria. Podem seguir a autora no Twitter e no Instagram e saber mais sobre o seu percurso no seu blogue.

 

O livro está apenas disponível na Amazon, onde poderão ler as primeiras páginas: https://www.amazon.es/-/pt/gp/product/B09BW3GY5R/ref=dbs_a_def_rwt_hsch_vapi_tkin_p1_i0.

 

Se quiserem comprar o livro, têm duas opções: os que têm kindleunlimited não precisam de pagar. Os restantes devem escolher a opção Preço Kindle.

 

 

O que acham? Muito interessante, não é? Espero começar a sua leitura hoje ou amanhã.

 

 

Bem-vindos a mais uma Batalha das Capas! Desta vez, irei analisar capas diferentes de Tokyo Ever After, de Emiko Jean. Volto a lembrar que este romance contemporâneo YA é a leitura em inglês de agosto do Read with Daniela.

Nesta história, uma rapariga japonesa e americana normal, Izumi Tinaka, nunca sentiu como se realmente pertencesse a algum lugar, até porque não é fácil ser japonesa e americana na sua pequena cidade no norte de Califórnia, um lugar praticamente composto por pessoas brancas. Tem sido sempre ela e a sua mãe solteira contra o mundo. Mas, entretanto, Izumi descobre que o pai é o príncipe herdeiro do Japão, o que significa que ela também é uma princesa. De repente, Izumi vai até ao Japão e conhece o pai e um país que esteve sempre nos seus sonhos. No entanto, ser princesa não tem apenas a ver com vestidos e bailes. Há primos que conspiram, jornalistas ávidos, um guarda-costas carrancudo, mas bonito que poderá ser a sua alma-gémea e milhares de anos de tradições e costumes para aprender rapidamente. Izumi está entre dois mundos e versões de ela mesma. Em casa, nunca era suficientemente "americana". No Japão, ela deve provar que é suficientemente "japonesa". Irá Izumi cair sob o peso da coroa ou irá ela conseguir viver o seu conto de fadas?

 

Em primeiro lugar, temos a capa original/estadunidense. O livro foi editado pela Flatiron Books. John Ed De Vera foi o artista que fez a arte em papel. A própria autora afirmou que adora como a capa faz lembrar a arte de papel japonesa.

 

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De facto, esta capa é LINDA e foi o que me cativou mais quando ouvi falar deste livro pela primeira vez. Os detalhes do trabalho em papel, as cores e a simplicidade da fonte do título foram muito bem conjugados. Adoro como os diferentes tons de amarelo e verde ficam bem sobre o fundo azul. Além disso, este trabalho em papel mostra a mestria e o talento do artista acima mencionado. Está de parabéns.

 

 

 

De seguida, temos a capa da versão russa, que foi editada pela ACT.

 

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Não sei qual é a intenção da capa. As flores são lindas e este cor-de-rosa é maravilhoso. A fonte do título é simples, o que fica bem com a complexidade de formas das flores. Ainda não li o livro e a capa original apresenta algumas flores. Será que têm algum papel relevante na história? Talvez, mas o facto de a protagonista ser uma adolescente japonesa-americana que de repente descobre que é da realeza tem mais importância do que flores e, por isso, deveria ser a imagem que os leitores deveriam ter da história.

 

 

 

A seguir, apresento-vos a capa espanhola. O livro foi publicado pela Montena.

 

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Adoro quando optam por capas ilustradas. Não aprecio muito a cor que escolheram para a palavra Tokio, mas as restantes cores ficaram fenomenais. A predominância dos rosas e dos roxos funciona muito bem. A inclusão de elementos ligados à realeza, à gastronomia japonesa e à juventude também funciona muito bem, tendo em conta que o livro é um YA que irá captar a atenção de muitos leitores que adoram histórias sobre princesas e/ou o Japão. O título é mesmo o ponto fraco da capa.

 

 

 

Por fim, temos uma outra capa estadunidense, mas, desta vez, é da edição de capa mole. Foi publicada pela Macmillan Children's Books.

 

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Esta capa é muito estranha. Tendo em conta a predominância das pessoas brancas em capas literárias, acho excelente que a editora tenha optado por mostrar a personagem tal como ela é. Infelizmente, muitas editoras (europeias, por exemplo) acabam por "branquear" personagens não brancas porque acham que as mesmas não são "rentáveis" e irão prejudicar as vendas, o que é uma teoria extremamente racista. Portanto, se era para incluir uma pessoa real e não uma pessoa ilustrada, fizeram bem em colocar alguém que é como a protagonista. No entanto... Esta capa não funciona. É demasiado cor-de-rosa, os tons de azul mal existem na capa, a fonte do título deveria ser mais chic e a modelo deveria estar mais em destaque e não tanto o título. Apesar disso, foi inteligente usar como slogan "Who, me? Princess?", pois pode ser uma referência ao filme The Princess Diaries. Aliás, Tokyo Ever After tem como uma inspiração os livros do mesmo nome.

 

Concluindo, para mim, a capa vencedora é... A capa original. É mesmo uma obra de arte. As cores, o tipo de arte utilizado, a delicadeza do seu aspeto no geral... Uma capa muito bem conseguida. A capa espanhola é uma segunda favorita. A capa russa não faz sentido nenhum, mas a edição de capa mole americana é uma tremenda confusão e apenas uma grande mancha cor-de-rosa.

 

Por agora, é tudo. Até breve!

 

 

 

Quem segue o meu blogue e as minhas redes sociais sabe que eu leio imensos livrosYoung Adult (ou YA). Por vezes, explico brevemente o que é o Young Adult. No entanto, depois de, no mestrado, ter feito um trabalho sobre esta categoria literária, decidi que seria bom publicar alguns capítulos do trabalho no blogue, sendo o primeiro sobre o "nascimento" e o desenvolvimento do YA.
 
P.S.: Por fazer parte da cronologia da literatura YA, menciono brevemente o famoso feiticeiro, mas faço-o de forma muito rápida e sem grandes nomes. Não apoio a autora e não tenciono falar sobre os seus livros.
 
 
 
4 Major Differences Between Young Adult and Middle Grade Fiction
Fonte.




Sempre houve um mercado editorial focado no público adulto, bem como livros escritos especificamente para crianças. No entanto, foi só a partir da Segunda Guerra Mundial, com os desenvolvimentos nos ramos da Psicologia e da Sociologia, que foi criado todo um universo comercial e consumista para o adolescente. A partir daí, apareceram roupas, filmes, músicas e programas de rádio para a pessoa que não era criança, mas que também ainda não era adulta. 
 
No mundo dos livros, viram que era necessário criar um espaço para o adolescente. Nos EUA, Seventeeth Summer, de Maureen Daly, que foi publicado em 1942, é considerado por muitos o primeiro romance para adolescentes. No entanto, o termo usado para indicar o seu público-alvo, Young Adult, já tinha aparecido muito antes da publicação desse romance. Em 1906, nos EUA, aquando da criação da League of Extraordinary Librarians por parte de Anne Carroll Moore, as bibliotecárias notaram que os adolescentes, cada vez mais, frequentavam as bibliotecas. Posto isto, Mabel Williams e outras colegas decidiram inventar uma nova secção para estes jovens ávidos por livros que fossem adequados para a fase da vida que enfrentavam. Começaram a procurar por livros nas secções infantil e adulta e, em 1929, surgiu a primeira lista anual de NYPL, que era enviada para todas as escolas e bibliotecas americanas. Vendo o sucesso desta nova iniciativa, uma outra bibliotecária de Nova Iorque, Margaret Scoggin, alterou o título da sua rubrica jornalística, “Books for Older Boys and Girls”, para “Books for Young Adults”. A partir daí, esta secção dos adolescentes passou a ser chamada Young Adult. Até aos anos 60 e 70, a designação Young Adult era apenas usada para indicar o público-alvo dos livros que caíam nessa categoria. Foi nos anos 60 que a nomenclatura foi mais longe. Já não estava apenas associada à idade do leitor. Na realidade, qualquer um poderia e pode ler livros Young Adult. A partir dessa década, as personagens adolescentes ganharam uma dimensão de verosimilhança, causando um grande impacto nas vidas dos jovens leitores. Passaram a notar que havia um grande número de livros cujos protagonistas eram adolescentes e eram narrados segundo as perspetivas deles, apresentando temas como a aproximação da idade adulta (coming of age), ritos de passagem e desenvolvimento da identidade. Segundo os autores Jean E. Brown e Elaine C. Stephens, o Young Adult é, deste modo, “a body of literature written for an adolescente audience that is, in turn, about the lives, experiences, aspirations, and problems of young people” (Klinkhamer, 2012: 11). 
 
 
 
Index
Jovens a ler uma lista de livros no "Books for Young People", rubrica de Margaret Scoggin (1938).
Fonte.

 



Nos finais dos anos 60, apareceram livros como The Outsiders, de S.E. Hinton (1967), que, antes, era descrito como um livro adulto, mas, devido à desilusão nas vendas, a editora passou-o para a categoria de Young Adult por ver que os adolescentes eram os que mais compravam o livro. Os anos 70 foram a Idade Dourada do YA, aparecendo livros com temas cada vez mais controversos, como a morte, o sexo, as drogas e o álcool. Nessa década, imperavam os livros que tinham como cenário um mundo contemporâneo e realista. Nos anos 80 e 90, esses temas continuaram a aparecer, mas os autores aventuravam-se noutros géneros sem ser a ficção realista, como o terror (Goosebumps, de R. L. Stine, cujo primeiro livro foi publicado em 1992). 
 
Desde então, e até aos dias de hoje, o Young Adult está a ser transformado por tópicos e temas que, por estarem relacionados com a vida do adolescente, eram vistos como imbecis. Por isso mesmo, os livros YA são vistos como “literatura de baixo nível” ou “leitura de praia” (Mitra, 2018: 5). Não é por acaso que, ainda nos anos 90 e inícios do século XXI, esta categoria literária tenha passado por tempos sombrios. Nessa altura, devido às opiniões negativas que o público geral tinha do YA, os autores começaram a apostar menos nos livros cujos protagonistas eram adolescentes. Contudo, o cenário melhorou após a publicação de um livro sobre um feiticeiro com uma cicatriz na testa. Ao longo da coleção, o feiticeiro cresce, passando de criança para jovem-adulto. Já os últimos livros podem mesmo ser considerados YA. Além disso, o público não era apenas um grupo de crianças sonhadoras. Os adultos também passaram a fazer parte desse público. Perante esta mudança de paradigma, e ao verem o sucesso das adaptações cinematográficas desta coleção de Fantasia nas bilheteiras, as editoras passaram a procurar pelo próximo grande fenómeno. Como resultado dessa procura, passaram a surgir géneros prediletos no YA. Twilight, de Stephanie Meyer, foi uma enorme conquista para o romance paranormal, aparecendo muitos outros, como Fallen e Hush, Hush. A trilogia Os Jogos da Fome, de Suzanne Collins, mostrou que também se pode escrever livros distópicos para os mais jovens. Apareceu, depois, por exemplo, a trilogia Divergente. Começou, assim, a Segunda Idade Dourada do YA. 
 
 
 
The Hunger Games: Mockingjay – Part 2 – Wikipédia, a enciclopédia livre
Os Jogos da Fome eram tão amados que acabaram por ser adaptados para o grande ecrã. Os filmes, tal como os livros, foram um grande sucesso.
Jennifer Lawrence como Katniss Everdeen em The Hunger Games: Mockingjay Parte 2.
Fonte.



Na segunda década do século XXI, livros paranormais e distópicos ainda são publicados, só que, agora, têm uma forte carga social. Os autores, nesta era de globalização e de surgimento de problemas e preocupações sociais, cada vez mais mostram o mundo como ele realmente é, ou usam os livros como metáforas e exemplos. Os livros YA podem desafiar os jovens a pensar de forma diferente acerca do mundo que os rodeia, podendo mesmo moldar toda uma geração. Um grande exemplo disso é O Ódio que Semeias, de Angie Thomas, inspirado no movimento social americano Black Lives Matter. Cada vez mais há uma preocupação em falar sobre pessoas e culturas marginalizadas e a literatura pode ser uma grande plataforma para as minorias, se bem que, ainda hoje, predominam, nas editoras e no cânone, autores brancos. Por acreditarem na possibilidade da mudança e na juventude, muitos autores que querem falar sobre o racismo, a xenofobia, a igualdade de género, etc., recorrem ao YA. Estes temas e preocupações não são apenas retratados em romances. Há romances versificados e romances gráficos que, devido a um público talvez cansado dos cânones ou que os teme, prefere outros formatos de escrita. Acrescenta-se, ainda, o papel dos ebooks e audiobooks nesta época digital em que os jovens procuram por mais meios pelos quais se podem envolver de forma criativa na história. 
 
 
 
Wook.pt - O Ódio que Semeias
O Ódio que Semeias é um dos grandes fenómenos do mundo YA dos últimos anos.
Fonte.



Resumindo, o Young Adult surgiu numa altura em que a indústria editorial e todos os elementos ligados a ela (bibliotecas e livrarias) viram que era necessário preencher o vazio que os jovens leitores sentiam sempre que não sabiam o que poderiam ler. É quase um espaço repleto de mundos diferentes, quer realistas, quer fantásticos, onde o jovem pode tentar compreender-se a si mesmo e ao mundo à sua volta. Infelizmente, tem uma conotação negativa porque, tal como na vida real, os adolescentes fictícios são vistos como irracionais e ridículos. Além disso, os livros YA são considerados livros de fraca qualidade por serem escritos especificamente (mas não apenas) para os mais jovens. No entanto, são tão importantes quanto a “literatura séria” e, na realidade, têm muita qualidade. Na atualidade, os livros YA tendem a não obedecer aos cânones literários, pois é preferível criar uma história real com a qual o adolescente possa criar uma ligação. As regras formais do cânone não são extremamente valiosas. O que interessa é que o leitor sinta as emoções presentes no livro e consiga ver-se refletido nas personagens e na história. 


 
 
Bibliografia (geral):
 
 
AGUIAR E SILVA, Vítor (2011), Teoria da Literatura, oitava edição (19.ª reimpressão), volume I, Coimbra, Edições Almedina. SA,; 
 
BISHOP, Rudine Sims, “Mirrors, Windows, and Sliding Glass Doors”, in Perspectives: Choosing and Using Books for the Classroom, volume VI, n.º3, Christopher-Gordon Pub., 1990; 
 
BLOCKEEL, Francesca, “Mudanças na narrativa juvenil portuguesa depois de 1974” in Revista do CESP – v. 26, n. 35 – jan.-jun. 2006; 
 
ELLIS, Lindsay, Meelhan, Angelina, (2018), “The Evolution of YA: Young Adult Fiction, Explained (Feat. Lindsay Ellis) | It's Lit!”, disponível em: . Acesso em: 22 de março de 2019; 
 
Epic Reads, (2015), “Epic Reads Explain: A Brief History of YA”, disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=SkdnKQmHsWA&feature=youtu.be. Acesso em: 22 de março de 2019; 
 
MATSUDA, Alice Atsuko. “A literatura infantil e juvenil contemporânea: Estudo dos livros digitais propostos em Portugal no PNL”. R. Letras, Curitiba, v. 20, n. 30 p. 17-39, set. 2018. Disponível em: https://periodicos.utfpr.edu.br/rl; 
 
MITRA, Reena “In Pursuit of Young Adult Fiction”, in Young Adult Fiction: Issues and Trends, editado por Sunita Sinha, Atlantic Publishers & Distributors (P) LTD, Nova Deli, 2018; 
 
KLINKHAMER, Antonella (2012), “Young Adult Literature on the Rise? The possibilities of Young Adult Literature for Dutch teachers of English literature, and its Present-Day Usage” (dissertação de mestrado), Universidade de Utrecht, Utrecht, Holanda; 
 
RISKU, Johanna (2017), ““We Are All Adolescents Now”: The Problematics of Categorizing Young Adult Fiction as a Genre” (dissertação de mestrado), Faculdade de de Ciências de Comunicação da Universidade de Tampere, Tampere, Finlândia. Recuperado de https://tampub.uta.fi/bitstream/handle/10024/101928/GRADU1504520036.pdf?sequence=1; 
 
TOMÉ, Maria da Conceição Dinis Alves Ferreira (2013) “O Outro na Literatura Juvenil Portuguesa do Novo Milénio: Vozes, Silêncios e (Con)Figurações” (Tese de doutoramento). Departamento de Humanidades da Universidade Aberta, Lisboa. Recuperado de https://repositorioaberto.uab.pt/bitstream/10400.2/3469/1/TD_MariaConceiçãoTomé.pd f; 
 
We Need Diverse Books, weneeddiversebooks.org [On-line]. Recuperado de https://diversebooks.org;
 
 
 
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