Opinião: O Império Final (#1), de Brandon Sanderson
O Império Final, de Brandon Sanderson, é o primeiro livro de uma coleção de Fantasia, Saga Mistborn-Nascida nas Brumas, composta por 6 livros, até ao momento. Ainda não se sabe quando chegará o sétimo e último volume, mas o sexto capítulo da saga foi publicado em janeiro de 2016 e foi muito bem recebido pelos fãs do autor. É importante realçar que esta saga está dividida em duas partes, uma vez que a ação dos quatro últimos livros da coleção é posterior à história contada nos primeiros três volumes, que já foram editados em Portugal.
O primeiro volume narra uma revolução liderada por um Alomante (pessoa capaz de obter capacidades mágicas a partir de metais) carismático, Kelsier, que sofreu nas mãos do Senhor Soberano, um "Deus" que governa todo o Império Final. Para destronar o Senhor Soberano, Kelsier faz planos arrojados em conjunto com o seu bando, composto por homens que são capazes de usar metais específicos, ao contrário de Kelsier, que pode usar qualquer metal. É no início da elaboração da revolução que Kelsier conhece uma Alomante, Vin, uma skaa (os skaa são o povo escravizado do Império Final) orfã que consegue usar metais por ser mestiça, isto é, não só é skaa, como também é filha de um nobre importante. Os skaa não podem ser Alomantes, a não ser que tenham sangue nobre. Vin acaba por se juntar ao grupo, pois Kelsier promete-lhe que irá ensinar-lhe tudo sobre o uso dos metais, pois todos têm poderes diferentes, enquanto ela desempenha um papel fundamental na revolução: a jovem deverá fingir ser uma nobre, a menina Valette Renoux, de modo a desencadear desavenças entre as grandes famílias da nobreza, para enfraquecer o sistema político do Império. No entanto, há dificuldades pelo caminho e o bando passará por momentos bastante negros, mas mantém-se sempre o desejo de melhorar o Império Final. Portanto, será que eles vão conseguir concretizar o sonho de ver um Império governado por pessoas justas, ou será impossível derrubar o Senhor Soberano?
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Fanart: Kredik Shaw, o palácio do Senhor Soberano |
Como podem constatar, estamos perante um enredo bastante interessante, apesar de não ser algo novo na Literatura Fantástica. Ainda assim, destaca-se por ser simples e por mudar certos aspetos tradicionais da Fantasia, como a magia. Normalmente, associamos a magia a varinhas ou aos gestos que as personagens fazem com as mãos, mas, neste livro, a magia só é possível pela ingestão de metais. Cada metal tem um poder único; por exemplo, o latão permite acalmar as pessoas, o ferro permite, através de linhas azuis, encontrar fontes de metal próximas, entre outros poderes incríveis. Deste modo, a ação, apesar de não ser totalmente original, acaba por captar a atenção do leitor graças aos detalhes criados pelo autor, que inovam, de certa forma, o mundo da Fantasia. Também tal como muitas obras da Literatura Fantástica, a primeira parte do livro desenvolve-se de forma lenta e com algum detalhe, mas é normal, pois o leitor está perante um mundo completamente novo. A segunda parte acaba por ter mais ação devido a alguns contratempos (e alguns de extrema importância) que o bando sofre, mas o final foi o melhor de toda a obra, pois as reviravoltas foram mesmo surpreendentes.
São as personagens que conferem complexidade ao enredo, pois são todas completamente diferentes. Temos, por um lado, Kelsier, que é fascinante, rebelde e ambicioso, e , por outro, temos Vin, uma jovem fraca, mas que, ao ser devidamente preparada, torna-se numa grande espia e numa Alomante muito talentosa. Kelsier é, sem dúvida alguma, uma das personagens mais cativantes da obra, mas não teve a atenção que merecia, na minha opinião. Temos pequenos vislumbres sobre o seu passado e entendemos as razões da sua vingança e dos seus desejos em levar a cabo uma revolução; contudo, apenas sabemos que é hábil na arte da Alomância. O contrário aconteceu com Vin, que foi a personagem que mais desenvolveu, principalmente a nível psicológico. O leitor sente imediatamente empatia por ela, nomeadamente nos seus momentos de fraqueza. No entanto, penso que houve algumas discrepâncias na formação da personalidade dela, o que é algo diferente se falarmos em desenvolvimento como personagem. Por exemplo, antes de conhecer o bando, Vin era muito cuidadosa e séria, mas, durante a preparação da revolução, havia momentos em que ela era demasiado ingénua. Ainda assim, Sanderson criou um elenco variado, apesar de ter sido pouco explorado, tendo como exceção as duas personagens anteriormente referidas.
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Fanart: Vin e Kelsier com os seus mantos de Alomantes. |
Ainda assim, gostaria de falar de outras duas personagens que captaram a minha atenção, embora também não tenham sido muito desenvolvidas: Elend e Sazed. Embora a ação central seja a preparação da revolução e o culminar da mesma, também há uma ação secundária que poderá cativar os corações mais moles, ou seja, uma "possível" relação amorosa. Falo, então, de uma relação engraçada e, de certa forma, adorável entre Vin e Elend. Elend pertence a uma das Grandes Casas da nobreza, mas, ao contrário dos outros nobres, que não querem saber da pobreza e do sofrimento dos skaas e só querem dançar e vestir as melhores roupas, Elend é um rebelde idealista. Sonha num Império harmonioso onde pode reinar a justiça e a igualdade de direitos. Por isso, fica fascinado e muda um pouco a sua maneira de ser ao conhecer Vin, apesar de conhecer inicialmente a versão aristocrática dela. Deixa de ser apenas um idealista e passa a ser um jovem corajoso, a ponto de arriscar a sua vida por Vin e por uma vida melhor para os skaa.
Sazed prendeu-me por ser muito culto, sereno e bondoso, sem nunca perder a paciência com Kelsier e com Vin, que têm personalidades tempestuosas. Acaba por ser crucial para o desenrolar da ação e nunca perde a esperança nos planos de Kelsier.
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Fanart: Sazed |
O ponto forte deste livro é a escrita simples de Brandon Sanderson. Muitos leitores têm receio em ler Fantasia por causa da escrita complexa e detalhada, que se verifica, muitas vezes, em obras como as de Tolkien e as de George R.R. Martin. Todavia, n' O Império Final, a escrita não tem grandes floreados e o autor consegue ser muito concreto. O uso da alomância pode ser, por vezes, confuso, mas faz despoletar ansiedade e curiosidade no leitor.
Concluindo, recomendo O Império Final a leitores principiantes no vasto mundo da Literatura Fantástica. A escrita é acessível, o enredo é envolvente e, embora não seja completamente inovador, apresenta elementos originais. Talvez o problema maior seja o desenrolar lento da ação, mas as personagens não deixam o leitor cair no aborrecimento. Vale a pena ler este livro e espero ler o segundo volume, O Poço das Ascensão, em breve.
Classificação: 8/10 estrelas