Romances de jovens autores brasileiros que poderiam ser publicados em Portugal
Há umas semanas, encontrei, no Twitter, uma página brasileira (@semspoiler_) que divulga não só a literatura internacional, como também a literatura do seu país. Graças a esta página, encontrei uma outra, a da Agência Página 7 (@agenciapag7). No perfil, podemos encontrar uma pequena descrição: "A Agência Página 7 é responsável por buscar e lançar autores nacionais que escrevem para o público juvenil e jovem adulto." Isto significa que esta agência foca-se imenso na publicação e na divulgação de autores que escrevem para os adolescentes e para os que estão a dar os primeiros passos na fase adulta. Bastou ler mais alguns tweets para perceber que há histórias muito ricas e interessantes nesta agência. Também reparei que, ao contrário do mercado editorial português, a literatura brasileira está cada vez mais diversificada e jovem. Penso que poderiam ter algum sucesso em Portugal e, por isso, queria divulgar, pelo menos, quatro títulos e os seus respetivos autores.
Começo pelo livro da Iris Figueiredo. Céu Sem Estrelas conta a história de Cecília, uma rapariga que acabou de fazer 18 anos e está prestes a começar as aulas na universidade. Entretanto, ela perdeu o seu emprego e brigou com a mãe, acabando por ir morar com a sua melhor amiga, Iasmin. É assim que Cecília conhece o irmão mais velho de Iasmin, Bernardo, e inicia uma relação com ele. No entanto, não só ele guarda segredos e tem os seus próprios problemas, como Cecília também tem de lidar com as suas inseguranças em relação ao seu corpo e com a sua saúde mental.
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Livro lançado em junho de 2018. |
Penso que este livro poderia ter muito sucesso no nosso mercado. Parece ideal para quem quer livros sobre a fase de transição entre o ensino secundário e o ensino universitário. Além disso, aborda temas relacionados com a saúde mental (depressão e ansiedade) e parece não se focar apenas numa relação amorosa, já que Cecília tem outros problemas que podem ser comuns aos de vários jovens leitores, como problemas familiares e o desemprego.
Iris Figueiredo estudou Produção Editorial e tinha um blogue e um canal de Youtube onde falava sobre livros e o mercado editorial (o canal ainda existe, mas o vídeo "mais recente" foi publicado há dois anos). Em 2011, publicou o seu primeiro livro, Dividindo Mel, e tem outros romance, bem como contos em colectâneas.
Um milhão de finais felizes, de Vitor Martins, é sobre Jonas, um rapaz que trabalha no Rocket Café e que anota ideias de livros num pequeno bloco. Não se preocupa apenas com os turnos do trabalho, pois também tem de lidar com os valores conservadores dos pais. Um dia, conhece Arthur, um rapaz com barba ruiva, e Jonas começa a refletir sobre a sua vida, pensando se não estará a enganar a si próprio ao não mostrar quem ele realmente é. Este livro explora temas como a amizade, a família e o amor, não esquecendo a importância e o poder das histórias.
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Lançado no dia 26 de junho de 2018. |
Acho que muitos leitores jovens iriam gostar deste livro, principalmente aqueles que gostariam de ser escritores e que adoram partilhar o seu amor pela literatura com outras pessoas. Um outro ponto a favor tem a ver com os temas retratados, como a família, a amizade e a aceitação do "eu".
Vitor Martins é visto como um dos melhores autores brasileiros de YA. Formou-se em Jornalismo e trabalha como ilustrador editorial em projetos didáticos. Publicou o seu primeiro romance Quinze Dias, em junho de 2017. Acredita que a diversidade na literatura jovem é uma arma poderosa e, por isso, escreve para que as pessoas consigam ver a sua imagem refletida nos livros.
Clara Alves não faz parte da Agência Página 7, mas encontrei o seu livro no Twitter também. Conectadas é sobre uma relação online entre duas gamers, Raíssa e Ayla, que se conheceram graças a um jogo online. Raíssa, cada vez mais, acha que a relação é algo único e bom. Mas tem um problema: o avatar dela no jogo é um avatar masculino, ou seja, Ayla pensa que Raíssa é um rapaz. Os dias passam e Raíssa sente mais culpa. O problema intensifica-se quando é anunciada uma Feira relacionada com o jogo em São Paulo. Será esta feira uma boa oportunidade para Raíssa contar a verdade? Como irá Ayla reagir?
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Lançado em julho de 2019. |
Parece ideal para os fãs do Catfish, um programa da MTV sobre pessoas com relacionamentos online, mas que não conhecem fisicamente quem está no outro lado. Já li algumas críticas e os leitores gostaram do livro por ser leve e fofo. No entanto, como a história é sobre alguém que enganou a outra pessoa e está a tentar lidar com a sua sexualidade, isso é algo muito delicado e espero que a autora tenha feito bem o seu trabalho.
Clara Alves, segundo o seu perfil no Twitter, é uma assistente editorial que "gosta de destruir o patriarcado com os livros que escreve".
Por fim, temos Reticências, de Solaine Chioro. É sobre Joana, que criou uma conta (@vidaspretas) onde publica frases com um toque artístico sobre a vivência negra. Davi, que trabalha como freelancer de social media da prefeitura, entra em contacto com Joana para ela ilustrar uma campanha para o mês da consciência negra. Depois de ter saído da prefeitura, Davi pergunta-lhe se pode adicioná-la na conta pessoal, mas Joana prefere manter o mistério e, assim, o rapaz cria uma conta só para falar com ela. Passados seis meses, Davi vai parar à empresa de marketing onde Joana trabalha. Contudo, odeiam-se imediatamente! Como será esta relação de amor-ódio?
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Lançado em março de 2019. |
Tem 126 páginas e, por isso, deve ser uma leitura muito rápida. Tem muito a ver com os dias de hoje, na medida em que, cada vez mais, as redes sociais são usadas como armas revolucionárias. É, ainda, uma história que representa a experiência negra e que foi escrita por uma autora negra.
Solaine Chioro formou-se em Letras-Latim e é escritora e revisora freelancer. Adora escrever e falar sobre a representatividade na cultura pop, tendo, até um podcast com Olívia Pilar, Duas Limonadas.
Espero que tenham gostado da publicação de hoje!
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