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A Biblioteca da Daniela

A Biblioteca da Daniela


Os Instrumentos Mortais, no início, estava destinado a ser apenas uma trilogia. Contudo, em 2010, a autora anunciou que iria escrever mais três livros e que os via como uma segunda trilogia. Em 2011, publicou City of Fallen Angels (na versão portuguesa, A Cidade dos Anjos Caídos). A história do quarto volume tem como ponto de partida a nova vida de Simon Lewis como um vampiro que, na realidade, não é afetado pelo sol e tem a Marca de Caim na testa, que o protege de qualquer mal. Tal não significa que ele não corra perigo por ser sido constantemente contactado por seres poderosos para formarem alianças com ele. Ao mesmo tempo, Caçadores de Sombras morrem de forma misteriosa e Clary descobre que há alguém a tentar transformar bebés em seres demoníacos. Após uma guerra sangrenta contra Valentine, como irão os jovens Caçadores de Sombras lidar com os novos obstáculos?



É interessante ver como Cassandra Clare, após A Cidade de Vidro, que foi um ótimo desfecho da trilogia, conseguiu pegar novamente nestas personagens e criar uma história completamente nova, conseguindo manter a essência das personagens. Mas, tal como aconteceu na primeira trilogia, neste quarto livro temos, ainda, um foco enorme em torno das relações amorosas das personagens e, por vezes, eu sentia que a autora se esquecia da nova linha narrativa fantástica que tinha acabado de construir.


Fanart.


A escrita de Clare mantém-se simples e repleta de frases bonitas acerca do amor e da vida em geral. As descrições continuam a ter os pormenores na quantidade certa e, portanto, é uma escrita que não é aborrecida. Um outro aspeto importante é o facto de ser possível facilmente visualizarmos, por exemplo, uma cena de luta, como se estivéssemos a ver um filme. Continua, então, a ser o ponto forte das suas obras.

Quanto ao enredo, acho-o ainda mais fascinante do que os três livros anteriores. Pode-se dizer que a primeira trilogia era um pouco mais cliché, pois estamos perante uma protagonista que descobre que, afinal, não é totalmente humana, que possui poderes e que tentar aprender a viver no novo mundo que lhe foi desvendado. Além disso, ela acaba por ser uma peça fundamental na grande guerra contra um inimigo sedento por poder e é, de certo modo, a salvação do mundo dela. Neste quarto livro, a atenção não se centra só na protagonista, mas também nas restantes personagens que lhe são importantes, como Simon. Há, ainda, novos temas retratados, mas de forma metafórica, como a homossexualidade, a ideia de aceitar outrem tal como ele é, etc. Penso que aquilo que, de certa forma, "estragou" a história foi, mais uma vez, o excesso de atenção relativamente às relações amorosas. Clare criou personagens tão singulares e variadas, mas transmite a ideia de que elas, na realidade, não têm valor nenhum se não estiverem numa relação amorosa. Este excesso de atenção também atrasa o desenrolar da ação e faz com que o leitor sinta cansaço por ver sempre o mesmo tipo de relações. Torna-se repetitivo e não se explora o mundo sobrenatural tão bem como merece ser explorado. O que salva o livro são os últimos capítulos. Não quer dizer que os anteriores não tenham sido bons, mas os últimos dois ou três capítulos foram espetaculares e deram logo um novo valor ao livro. A minha classificação não seria a mesma se Clare não tivesse escrito estas últimas páginas.
Tirando essas situações monótonas, a história é muito boa e cativante. Há uma nova exploração quanto à dicotomia do bem/mal, do correto/incorreto. O regresso de certas personagens é uma estratégia que funciona muito bem nesta continuação e é algo que foi feito de forma inteligente, não havendo a sensação de que elas caíram de paraquedas no novo volume. 



Fanart.

Concluindo, Cassandra Clare, neste quarto capítulo das aventuras dos Caçadores de Sombras, conseguiu inovar o mundo sobrenatural que (re)criou. Embora ela mantenha certos erros que tinha cometido na primeira trilogia, A Cidade dos Anjos Caídos mostra que ela tem uma imaginação muito fértil e que sabe explorar magnificamente a essência do ser humano. Eu achava que tinha cometido um erro ao continuar a ler a coleção, uma vez que eu tinha pensado que bastava ler os três primeiros livros para conhecer o talento de Clare, mas este começo da segunda trilogia acabou por ser muito cativante e prometedor.


Classificação: 4/5 estrelas.



Próxima leitura: Endgame- A Chave do Céu, de James Frey e Nils Johnson-Shelton.








Clockwork Angel (na versão portuguesa da Editorial Planeta, Anjo Mecânico) é o primeiro livro da trilogia The Infernal Devices (na versão portuguesa, Caçadores de Sombras-As Origens), de Cassandra Clare. Neste volume, que se passa na Época Vitoriana, conhecemos Tessa Gray, uma jovem que vivia em Nova Iorque e vai até Londres por convite do irmão Nathaniel. Ao chegar lá, conhece as irmãs Dark, duas mulheres estranhas que dizem vir recebê-la em nome do irmão. Mal ela sabia que seria raptada por ter um poder que desconhecia. Após seis semanas de solidão e de tortura, Tessa é salva por Will e outros Shadowhunters, guerreiros com sangue de anjo concebidos para eliminarem demónios. A partir daí, Tessa embarca numa viagem repleta de questões e de emoções fortes e ela percebe que a sua vida não voltará a ser a mesma.


Da autora, já tinha lido os primeiros três livros da coleção Os Instrumentos Mortais. Gostei do primeiro livro, não gostei tanto do segundo, mas o terceiro prendeu-me e gostei imenso. Os restantes três livros estão na estante à minha espera, mas ainda não posso ler os dois últimos, pois é melhor ler a trilogia primeiro. Posto isto, o que posso dizer é que, ao ler Clockwork Angel, agora percebo porque muitos leitores preferem a trilogia à coleção. Eu adorei este primeiro volume. Foi intenso, espantoso e surpreendeu-me imenso. Queria terminá-lo o mais rapidamente possível, porque queria saber o que acontecia a seguir, mas, ao mesmo tempo, não queria acabar, porque queria mais. Para mim, acaba por ser um pouco o oposto d'Os Instrumentos Mortais. Enquanto na coleção vemos a autora a valorizar demasiado as relações amorosas entre as personagens, em Clockwork Angel, temos, de facto, o interesse pelas relações das personagens, mas a autora teve o cuidado de desenvolver bem a história primeiro. Portanto, pode-se dizer que, neste aspeto, há uma evolução.



A história cativou-me logo na primeira página. Clare fez uma escolha sensata ao abrir a nova trilogia com uma cena misteriosa e que está relacionada com o mundo por ela criado. Também fez bem ao focar-se somente na ação e não tanto nos pensamentos e nas emoções das personagens. Estão presentes na história e não poderiam faltar, pois é importante que o leitor entenda e conheça as personagens, mas a ação não foi sacrificada em nome das possíveis relações amorosas ou pensamentos inúteis no desenrolar da ação. Ao longo do livro, temos muitas coisas a acontecerem e não há momentos mortos e, por isso, torna-se numa leitura compulsiva. É, sem dúvida, uma história que pode ser apreciada por qualquer leitor.




Fanart relativa a Clockwork Angel.


A escrita da autora foi uma surpresa para mim. Como até agora li traduções das obras delas, não me tinha dado conta da simplicidade da escrita dela. Penso que as traduções portuguesas ficaram demasiado embelezadas e apagaram a verdadeira essência dela. Gostei imenso das descrições, que não eram minuciosas, mas sim suficientes e diretas. A forma como ela facilmente introduziu os pensamentos das personagens através de um narrador na terceira pessoa também foi bem conseguida. Claro que houve palavras que eu não percebi, mas foram poucas e não dificultaram a compreensão do texto. Assim, se alguém quer ler este livro na versão original, mas tem receio quanto ao nível de inglês, aconselho a leitura a quem se sente seguro e tenha um vocabulário bom. De facto, para quem está a começar a aprender agora ou já não fala inglês há algum tempo, talvez não seja o ideal.

Por fim, as personagens estão bem construídas. Nota-se que a escritora não colocou o potencial todo delas neste livro, até porque estamos a falar de uma trilogia. Logo, certamente que haverá muito mais desenvolvimento nos seguintes livros. Além disso, há ainda muitos segredos por desvendar e perguntas a responder. Deste modo, ao contrário das personagens d'Os Instrumentos Mortais, gostei imenso das personagens da trilogia. Não eram chatas e infantis como as da coleção. Além disso, em Clockwork Angel, não senti que a personalidade delas tivesse sido apagada pelas relações entre elas, o que, infelizmente, aconteceu na coleção. É mais fácil o leitor criar empatia por Tessa, Will, Jem e outras, do que por Clary, Jace, Simon e outras que nos foram apresentada na Cidade dos Ossos, o primeiro livro da coleção. Tessa é uma jovem sensata que, de repente, passa a viver num mundo totalmente novo, repleto de demónios, caçadores de sombras, vampiros e outros seres. Apesar de tudo, tem uma enorme força de vontade para enfrentar as novas adversidades. Will é atrevido e escolhe ser rude, pois não quer ter ligações especiais com qualquer um devido aos seus segredos. Nada foi revelado, deixando o leitor extremamente ansioso por ler o segundo livro. Acreditem, eu quero muito ler o segundo livro. A seguir, temos Jem, o parabatai de Will (parabatai é um termo usado pelos Shadowhunters para explicar a forte amizade entre dois guerreiros. Acaba por ser um laço mais forte do que o laço familiar). Jem é carinhoso, inteligente e reservado e irá captar o coração do leitor devido ao seu passado turbulento e à sua personalidade sensível. Todas as restantes personagens são importantes e contêm características que irão interessar o leitor.



Tradução livre: "O que quer que sejas fisicamente... Homem ou mulher, forte ou fraco, doente- todas essas coisas interessam menos do que o teu coração contém. Se tens a alma de um guerreiro, és um guerreiro. Todas as outras coisas, elas são o vidro que contêm a lamparina, mas tu és a luz de dentro."


O único aspeto negativo que tenho a apontar é a construção de uma possível relação amorosa entre Tessa e Will. Surgiu de uma forma muito rápida e não houve justificações plausíveis para que houvesse uma relação de tão grande intensidade. Aí, parece que a autora voltou aos erros que cometeu na coleção. Contudo, talvez haja melhorias nos seguintes livros da trilogia.


Concluindo, Clockwork Angel foi uma boa forma de iniciar a nova trilogia. A escrita é simples e envolvente e a história desenrola-se de uma forma relativamente rápida, deixando o leitor ansioso por querer ler mais. As personagens são fascinantes e o mundo sobrenatural que as rodeia, embora não seja totalmente único, irá encantar as pessoas que adoram este tipo de histórias. Recomendo vivamente.



Classificação: 4.5/5 estrelas.



Próxima leitura: City of Fallen Angels (#4 The Mortal Instruments), de Cassandra Clare.