Como tenho opiniões acumuladas desde 2020, optei por voltar a escrever Formigas Literárias, ou seja, opiniões mais pequenas e realizadas em grupos.
Em primeiro lugar, vou falar sobre Strange the Dreamer, de Laini Taylor. Neste primeiro livro de uma duologia de Fantasia YA, o sonho escolhe o sonhador.
Desde os seus cinco anos, Lazlo Strange está obcecado com a mítica cidade perdida de Weep, mas seria necessário uma pessoa mais corajosa do que ele para ir procurá-la. Depois, uma grande oportunidade surge na figura de um herói chamado Godslayer e num bando de guerreiros lendários. Ele deve pegar na oportunidade ou perder o seu sonho para sempre.
O que aconteceu para fazer desaparecer Weep? O que Godslayer matou e que era visto como deus? E qual é o problema misterioso que ele deve agora procurar resolver?
As respostas estão em Weep, bem como muitos mais mistérios, incluindo uma deusa de pele azul que visita Lazlo nos seus sonhos.
Infelizmente, não consegui ver neste o encanto que senti num outro livro desta autora que já li, A Quimera de Praga. A escrita é muito poética e bonita, mas é precisamente isso que acaba por estragar um pouco este livro. Parece que a autora só quis tornar o texto belo e não se esforçou tanto no enredo e na criação das personagens. Normalmente, gosto de escritas mais elaboradas e com pinceladas poéticas, mas isso foi um exagero aqui. Chega ao ponto em que é praticamente impossível lembrar-me da história. É verdade que foi lida em janeiro de 2020, mas não me lembro de nada. Mesmo nada. É um livro que não vai para além da escrita forçadamente bonitinha. Foi mesmo uma desilusão, pois A Quimera de Praga, para mim, tinha o melhor dos dois mundos: escrita fascinante e enredo intenso e inquietante. Também não gostei tanto da continuação d'A Quimera de Praga. Portanto, o melhor será desistir desta autora, o que me entristece um pouco.
Classificação: 2.5/5 estrelas.
O próximo livro é uma narrativa em verso contemporânea YA e foi escrita por Elizabeth Acevedo. Em The Poet X, Xiomara sempre guardou as suas palavras dentro de si. Quando tem de ser firme no seu bairro em Harlem, os seus punhos e a sua ferocidade é que falam por ela.
Mas X tem segredos: os seus sentimentos por um rapaz da sua aula de biologia e um caderno cheio de poemas que ela mantém debaixo da cama. E um clube de poesia slam que irá colocar esses segredos sob os holofotes.
Porque, apesar de o mundo não querer ouvi-la, Xiomara recusa ficar em silêncio.
É um lindo livro sobre racismo, feminismo, fé e a busca pela própria voz e perceber como usá-la. Através de um formato simples e cativante, Acevedo explora imensos temas e situações que são de extrema importância e que devem ser falados, principalmente perante um público mais jovem. É uma história brilhante e a sua protagonista é tão encantadora quer na sua sensibilidade, quer na sua força. Mais do que nunca, os livros YA são grandes fontes de entretenimento, de educação e de arte e The Poet X é um desses livros. Deixa-nos a querer saber mais da protagonista e da forma como vê o mundo, faz-nos aprender mais sobre os outros e nós mesmos e é de uma delícia literária única. Impactante e magnífico. Não me admira que tenha recebido tantos prémios.
Classificação: 5/5 estrelas.
E se formos nós, da dupla Becky Albertalli e Adam Silvera, marca o fim da publicação de hoje. É um romance contemporâneo YA sobre o amor, a amizade, a família e a adolescência. "Não sei se somos uma história de amor ou se o nosso amor é uma história.
Arthur só vai ficar em Nova Iorque durante o verão, mas ele acredita que isso não é impedimento para conhecer o grande amor da sua vida. Tal como entoam os musicais da Broadway de que Arthur tanto gosta, o universo pode fazer surgir uma paixão a qualquer momento, quando menos se espera…
Ben não acredita no amor. Ele só quer distância das conspirações do universo e dos seus planos secretos. Porque se o universo fosse realmente seu aliado, ele ainda estaria numa relação e não no posto dos correios para devolver todos os pertences do seu ex-namorado.
Um dia, Arthur e Ben cruzam-se. Um encontro aparentemente banal dá início a uma história de amor cheia de emoções fortes, percalços, contrariedades e desafios. Mas, afinal, o que terá o universo reservado para estas duas almas apaixonadas? Talvez nada. Talvez Tudo!"
Já conhecia Becky Albertalli e gostei dos dois livros dela que já li (O Coração de Simon Contra o Mundo e Os Altos e Baixos do Meu Coração). Ainda não conhecia o trabalho de Adam Silvera e espero ler os seus trabalhos a solo um dia. Apesar disso, não posso dizer que adorei este livro. Foi uma leitura agradável, mas acho que criei expetativas elevadas e não foi tão surpreendente e maravilhoso quanto estava à espera. Gostei mais de Arthur do que de Ben, talvez porque Arthur é o coração mole e inocente, enquanto Ben protege-se mais no que toca a sentimentos, por exemplo. A escrita é simples e penso que a dinâmica dos autores é boa. Do que já ouvi sobre Silvera, não me admira que Albertalli consiga trabalhar bem com ele e que tenham conseguido criar de forma tão natural esta história. Ainda assim, faltou qualquer coisa. As personagens principais poderiam ter sido mais únicas, por exemplo, e as secundárias poderiam ter tido mais vida, digamos assim. E concordo com as pessoas que dizem que as constantes referências de cultura pop foram exageradas. De qualquer forma, é um livro que pode ser dado a um adolescente relutante quanto à literatura.
Classificação: 3/5 estrelas.
Por agora, é tudo. Já leram estes livros? Se sim, gostaram deles?
Para quem não se lembra, criei há uns tempos uma espécie de rubrica onde iria escrever opiniões mais pequenas de livros que não gostei tanto quanto queria ou sobre os quais não tenho muito a dizer. A rubrica chama-se Formigas Literárias precisamente devido ao tamanho das opiniões e baseia-se em poucos parágrafos curtos sobre dois ou três livros.
Na publicação de hoje, pretendo falar sobre Dias de Sangue e Glória, de Laini Taylor, Coraline, de Neil Gaiman, e Hollow City, de Ransom Riggs.
Em Dias de Sangue e Glória, acompanhamos Karou, que finalmente sabe quem foi e quem é. Depois de se ter apaixonado pelo inimigo e ter sido traída, acaba num castelo de areia onde irá tentar recriar o universo do seu passado e fazer regressar as quimeras. Mas não consegue esquecer-se de Akiva, que também não consegue deixar Karou ir.
Este é o segundo livro de uma trilogia de Fantasia, Daughter of Smoke and Bone. O primeiro livro foi uma leitura magnífica e que me deixou entusiasmada o tempo todo. Contudo, não posso dizer o mesmo quanto a este segundo volume. Foi uma leitura parada e monótona. Além disso, tínhamos mais do mesmo relativamente às personagens. Tem algumas partes interessantes, como os processos pelos quais Karou passa para realizar a sua magia. Fora isso, não foi tão estupendo e viciante como o primeiro. Apesar disso, o estilo de escrita continua impecável e poético, sendo um dos pontos fortes da autora.
A seguir, temos Coraline, de Neil Gaiman. Coraline é um livro infantojuvenil, mas, nos últimos anos, tem sido lido principalmente por adultos. Tem como protagonista Coraline, uma menina que, um dia, decide investigar uma porta misteriosa da sua casa nova. É assim que ela descobre uma passagem secreta que tem como destino uma casa exatamente igual à sua, mas, ainda assim, também muito diferente.
No outro lado da porta, ela vê coisas muito estranhas, como anjos flutuantes, livros com imagens que se contorcem e pais que são exatamente como os seus! No início, eram simpáticos, mas, entretanto, revelam ser capazes de até aprisionar os verdadeiros pais de Coraline num espelho. Conseguirá ela salvá-los e regressar ao mundo real?
Li-o no outono de 2019 e, de facto, foi uma boa leitura outonal. Tem os seus traços estranhos e arrepiantes, sendo adequado para o Halloween. Gostei das mensagens do livro e da forma como elas foram exploradas neste livro. Vemos uma Coraline que deseja uma vida diferente, mas quando ela tem, de facto, uma vida diferente, ela pensa em voltar para a sua verdadeira vida e estar com a sua família verdadeira. Portanto, até que ponto os nossos desejos e sonhos poderão ser melhores do que a nossa realidade?
As ilustrações que acompanham a edição que tenho combinam bem com a história, pois são igualmente estranhas e têm uma aura assustadora.
A escrita do autor é simples e é ideal para o público mais jovem, sendo envolvente e simples.
Não tenho muito mais a dizer. Vi o filme primeiro, mas há muitos anos. Acho que este é um dos poucos casos em que o filme executou melhor a ideia do que o livro, que é o material original da ideia. Talvez seja por isso que não tenha gostado tanto do livro, embora tenha as suas qualidades. Recomendo este livro como uma leitura digna do Dia das Bruxas.
Hollow City, de Ransom Riggs, é o último livro desta edição de Formigas Literárias. É o segundo livro da coleção Crianças Peculiares da Senhora Peregrine. Se ainda não leram, pelo menos, o primeiro volume e têm interesse na sua leitura, será melhor não lerem esta opinião.
Jacob Portman queria encontrar respostas para a morte misteriosa do avô e foi assim que foi parar ao Lar da Senhora Peregrine para Crianças Peculiares. Todavia, lá, só encontrou mais mistérios, como um lar cheio de crianças com poderes sobrenaturais que estão à guarda da senhora Peregrine, que as protege das criaturas perigosas que parecem determinadas a exterminá-las.
O lar é destruído e a senhora Peregrine fica em perigo. Jacob, que descobriu que também tem poderes, junta-se aos seus novos amigos para tentarem salvá-la. Mas ele encontra-se numa Londres que vive na Segunda Guerra Mundial e as ruas não são nada seguras para crianças que se encontram sozinhas... Jacob e os amigos terão de enfrentar desafios inimagináveis para se salvarem.
É verdade que já li este livro há dois anos, mas, infelizmente, não me lembro nada sobre ele. Só sei que achei o primeiro livro melhor do que este. A atmosfera misteriosa e nublada do primeiro volume mantém-se neste livro, bem como o uso perfeito das fotografias vintage, fotografias essas que fazem com que a história tenha uma carga real, embora, claro, seja tudo fictício. Mas acho que não há mais nada que se tenha destacado ou que tenha sido completamente diferente do livro anterior. De qualquer forma, é também uma boa leitura outonal.
Estive ausente durante uns meses, mas isso não significa que a minha carteira tenha estado a descansar! Ainda em agosto, recebi duas encomendas (ambas feitas no Book Depository):
Winter é o quarto e último volume da coleção The Lunar Chronicles (título da edição portuguesa: Crónicas Lunares), de Marissa Meyer. Tal como nos outros livros (que eu ainda não li), Winter é uma adaptação de um dos contos de fadas mais admirados no mundo inteiro, "Branca de Neve e os Sete Anões", tendo como cenário o espaço e a alta tecnologia. Ainda não foi editado em Portugal.
Fiquei muito contente quando soube que iriam escrever uma peça de teatro sobre o futuro de Harry Potter e do seu universo mágico! A peça Harry Potter and the Cursed Child foi escrita por John Tiffany e Jack Thorne, sob orientação de J.K. Rowling e passa-se 20 anos depois da batalha que garantiu a derrota de Voldemort. Já foi traduzida pela Editorial Presença e custa 19.90€.
Em setembro, comprei um romance de Valter Hugo Mãe, O filho de mil homens. Neste livro, temos como personagem principal Crisóstomo, um pescador que, por se sentir solitário, decide inventar uma família, "como se o amor fosse sobretudo a vontade de amar":
Há três semanas atrás, praticamente antes de a Academia Sueca ter anunciado o vencedor do Prémio Nobel da Literatura de 2016, comecei a fazer pesquisas sobre autores que, ao longo dos anos, são os favoritos do público geral e da imprensa internacional. Um deles era (e ainda é) o escritor japonês Haruki Murakami. Fiz uma outra pesquisa sobre o autor e a sua obra e decidi comprar Kafka à beira-mar, um dos seus romances mais adorados. São narradas as aventuras e desventuras de um jovem de 15 anos e de um idoso que tem dedicado grande parte da sua vida a procurar gatos desaparecidos. É um livro muito conhecido por apresentar uma história de demanda e por explorar tabus.
Na semana passada, decidi comprar o romance mais recente de Valter Hugo Mãe. Homens imprudentemente poéticos tem deliciado a alma literária de muitos portugueses e tem como cenário "um Japão antigo", onde um artesão e um oleiro "vivem uma vizinhança inimiga que, em avanços e recuos, lhes muda as prioridades e, sobretudo, a capacidade de se manterem boa gente".
Ontem, dia 22 de novembro, fui ao hipermercado Continente e reparei numa zona com livros que tinham 50% de desconto. Um deles era Dias de Sangue e Glória, a continuação d' A Quimera de Praga, de Laini Taylor.
E vocês? Têm comprado muitos livros? 😄
A Quimera de Praga (título original: Daughter of Smoke and Bone) é o primeiro livro da trilogia de Fantasia Entre Mundos (o título original da trilogia é o mesmo que o título do primeiro volume), de Laini Taylor. Neste primeiro capítulo, a personagem principal, Karou, é introduzida como uma jovem estudante de arte que aparenta ter uma vida relativamente normal em Praga, capital da República Checa. Muitos pensam que os seus cadernos recheados de desenhos de criaturas espantosas e estranhas são fruto da imaginação dela, mas o que eles não sabem é que Karou tem uma vida que é tudo, menos normal. As criaturas que ela desenha, as Quimeras, existem mesmo e são a família adotiva dela. Apesar de eles serem seres híbridos (misturas de partes humanas e partes animais), Karou ama-os e respeita-os imenso, principalmente Brimstone, o dono da loja onde vive a família de Quimeras. A jovem realiza várias demandas em nome de Brimstone (apesar de não saber praticamente nada sobre o mundo destas criaturas) e, uma vez, ao regressar de uma das suas muitas viagens em busca de dentes de animais para serem vendidos na loja, Karou percebe que algo de errado se passa quando vê uma marca de mão queimada na porta da loja. A partir daí, a sua vida mudou por completo.
Fanart retirada do Tumblr. Aqui podem ver Karou e Brimstone.
Muitos dirão que, pela sinopse, a história não parece ser muito original. Afinal, há muitos livros de Fantasia sobre criaturas esquisitas que conhecem uma pessoa perfeitamente normal que irá mudar, de alguma forma, o mundo delas. No entanto, isso não acontece aqui. Neste romance de estreia de Taylor, temos uma vastidão de seres surpreendentes e fascinantes que apresentam detalhes assombrosos. A autora criou um mundo extremamente original e excecional que tem uma certa aura mística, lendária. É um ambiente em que, por um lado, temos humanos que não se apercebem da existência desta outra realidade mágica e, por outro lado, temos um mundo no qual vivem dois grupos distintos e rivais, as Quimeras e os Serafins, que, desde há muito tempo, travam uma guerra violenta e sangrenta, na qual a magia que cada grupo possui (que não tem nada a ver com varinhas ou sombras coloridas que saem das mãos) deve ser usada de forma responsável. As Quimeras e os poderes mágicos que elas possuem são, para mim, os aspetos mais interessantes de toda a obra e deixaram-me deslumbrada. Por isso, penso que o ponto forte deste romance Fantástico é a construção deste mundo mágico que, certamente, irá surpreender o leitor.
Mas a construção tão bem realizada deste mundo fabuloso não teria sido possível sem a escrita de Laini Taylor, que combina muito bem com o universo criado. Atrevo-me a dizer que a autora tem um estilo levemente poético, que lhe permite elaborar descrições ricas em detalhes deliciosos. Mesmo nos momentos de maior tensão, o estilo dela faz-nos refletir sobre o que é ser-se humano e como é que as ações nos podem definir. Faz-nos ler, ler, ler e ansiar por mais. A sua escrita é cativante e tocante e permite-nos ir mais longe na nossa imaginação.
Por fim, temos as personagens que, apesar de terem personalidades muito distintas e de serem capazes de nos seduzirem pelos seus mistérios e segredos, ficaram um pouco aquém das expetativas. Karou, a protagonista, foi muito bem esboçada, na medida em que ela tem bom humor, é enigmática (devido aos seus desenhos peculiares, ao seu cabelo azul e às bugigangas estranhas que lhe ornamentam) e tem, de facto, uma alma de artista, ou seja, ela vive intensamente através do desenho. Contudo, ela também tem um lado mais irritante, por ser muito "senhora do seu nariz" e querer fazer tudo à sua maneira, mas é isso que lhe confere complexidade e autenticidade. Já Akiva, um Serafim pelo qual ela se apaixona, não foi tão bem explorado como a protagonista, já que, no subplano da história (a relação amorosa repentina entre ele e Karou) acabou por ofuscar o anjo como personagem. Ainda assim, nem tudo está perdido, pois ainda há muito por desvendar em relação a Akiva. As poucas Quimeras que fizeram parte do enredo, como Brimstone, também poderiam ter aparecido mais, mas, mesmo assim, gostei dos poucos momentos de intervenção destas criaturas fenomenais. Assim sendo, acredito que Taylor irá deixar estas personagens brilharem mais nos próximos volumes, até porque é normal ficarmos com a ideia de que o primeiro livro carece de alguma coisa.
Fanart.
Concluindo, aconselho a leitura deste primeiro capítulo de uma trilogia que promete arrebatar o coração dos leitores de imaginação mais fértil. É um primeiro volume repleto de magia, emoção, mágoa e esperança, bem como de criaturas deslumbrantes. Espero ler o segundo livro em breve.