Para começar as Batalhas de 2021 bem, escolhi analisar capas de um romance contemporâneo Young Adult que até já foi mencionado no blogue. Podem clicar aqui para lerem a minha opinião sobre I Believe in a Thing Called Love, de Maurene Goo.
Este livro tem como protagonista Desi Lee, uma rapariga coreano-americana que, ao estar quase a terminar o ensino secundário, apercebe-se de que nunca teve um namorado. Já este apaixonada várias vezes, mas nunca teve um relacionamento. Para ver se consegue mudar isso, ela decide ver vários kdramas (séries coreanas) para aprender como deve conquistar a sua nova paixoneta. Será que isso irá resultar?
A protagonista é muito ingénua e comete erros irresponsáveis (e acho que a autora soube realçar que, de facto, são erros maus), mas é uma história leve e amorosa.
Em primeiro lugar, temos a capa dos EUA, ou seja, a capa original:
Capa original/americana: Square Fish.
A capa da editora Square Fish é muito bonita e as cores usadas, cor-de-rosa e amarelo, dão um ar jovial à capa. Faço questão de lembrar que há uma clara falta de diversidade nas capas de livros, principalmente quando são livros escritos por autores não-brancos e/ou com personagens não-brancas. Portanto, a editora tomou uma ótima decisão ao mostrar a protagonista da história, que é coreano-americana. A literatura deve ser um reflexo da humanidade e, por isso, não faz sentido e é extremamente preconceituoso as editoras não colocarem protagonistas não-brancos em destaque. É o mesmo que dizerem que não têm um lugar na sociedade ou que não são capazes de vender alguma coisa por não ser alguém branco na capa. Portanto, fiquei contente quando vi esta capa. Amorosa, alegre e bonita.
Capa espanhola: V&R Editoras.
De seguida, temos a capa da V&R Editoras, uma editora espanhola. Gosto como quiseram manter os detalhes principais da capa original, mas, ao mesmo tempo, criaram uma capa diferente. É tão adorável quanto a capa original. As fontes das letras do título e do nome da autora são muito bonitas e combinam muito bem com a boa disposição da modelo.
Capa da Indonésia: Gramedia Pustaka Utama.
A seguir, apresento-vos a capa da edição da Gramedia Pustaka Utama, uma editora da Indonésia. É diferente das primeiras duas capas por ser ilustrada. É um bom exemplo de como foi possível manter a essência da capa original, mas num medium diferente, a ilustração. É uma capa sonhadora e fofa. Sem dúvida que poderá agradar muitos leitores jovens.
Capa francesa: Milan
A penúltima capa é da Milan, uma editora francesa. É uma capa horrorosa e sem vida. Os únicos elementos bons são o título e os pequenos detalhes que ele tem, já que têm muito a ver com a personagem. Percebo a presença da televisão e do casal, uma vez que a protagonista vê muitos kdramas românticos. No entanto, é horrível. Pelos vistos, na Europa, é muito comum as editoras "gostarem" de excluir a identidade das personagens das capas. Qual é a lógica que as editoras têm ao não quererem mostrar personagens não-brancas nas capas? Pessoas não-brancas não merecem ver alguém como elas noutros sítios? Ter uma personagem não-branca faz com que ninguém queira comprar o livro? Enfim, não estarão as editoras, ao fazer este disparate, a admitir que pensam que o seu público-alvo é somente o público branco?
Podem pensar que isto não é um assunto sério e que "ah, tudo é racismo hoje em dia", mas isto é mesmo feio. Muitas pessoas brancas podem não perceber a seriedade desta questão porque passaram a vida a ver o seu reflexo nos livros e nas suas capas, nos filmes, nas séries, nas novelas, etc. Quero que saibam que a arte é de e para todos. Negar a presença e a visibilidade de pessoas que não seguem um determinado padrão imposto por uma sociedade enraizada em relações e hierarquias de poder é mau e completamente errado. Repito, mas especifico desta vez: a literatura é de e para todos. Ponto.
Capa brasileira: Seguinte.
Por fim, temos a capa brasileira, ou seja, a edição da Seguinte. Mais um lindo exemplo de como é possível manter detalhes da capa original e, ao mesmo tempo, ter algo muito diferente. Uma ilustração lindíssima com as cores do original, mas em tons mais escuros e igualmente cativantes. Adoro como a capa tem pequenos detalhes relacionados não só com a protagonista, mas também com a paixoneta dela, como os tubos de tinta. A tradução do título ficou diferente do original. Contudo, este título chega a ser amoroso.
Tendo em conta tudo o que eu disse, para mim, a vencedora é... A capa brasileira!
Sinceramente, acho que há editoras brasileiras que poderiam dar masterclasses às editoras portuguesas. As nossas editoras parecem ter medo de capas ilustradas. Não sei porquê, pois, normalmente, um leitor também aprecia outras formas de arte, como a ilustração. Além disso, num mar de capas com caras humanas ou objetos mudanos, porque não ter, de vez em quando, capas como a da edição brasileira deste livro?
Isto nada tem a ver com as minhas questões anteriores relativamente à falta de visibilidade de pessoas não-brancas nas capas. Pessoas não-brancas merecem destaque quer em capas com pessoas, quer em capas ilustradas. É tão simples quanto isto.
Também quero esclarecer que nós temos, de facto, casos de sucesso relativamente a capas ilustradas. Já viram as novas edições de clássicos da Porto Editora? São capas feitas por artistas urbanos portugueses. São capas lindas.
Termino, assim, esta Batalha de Capas. Qual é a vossa capa favorita? E qual é, para vocês, a pior capa?
Este romance Young Adult contemporâneo é sobre Desi Lee, uma rapariga coreano-americana que, ao ver o fim do ensino secundário a aproximar-se, apercebe-se de que nunca teve um namorado. Já se apaixonou muitas vezes, mas nunca namorou. Por isso, ela decide ver séries coreanas para aprender a conquistar a sua paixoneta mais recente e, finalmente, ter um namorado. Mas será que isso vai dar certo?
O interesse pela cultura coreana e/ou pelo entretenimento coreano tem vindo a aumentar em vários países. Muitas pessoas andam a ouvir música de grupos coreanos, como os BTS, e têm encontrado séries televisivas sensacionais (kdramas), como Goblin. Por quererem consumir mais produtos culturais relacionados com a Coreia do Sul, as editoras norte-americanas têm apostado imenso em romances YA contemporâneos, como I Believe in a Thing Called Love, de Maurene Goo.
Este romance de Maurene Goo pode ser uma boa aposta para os fãs de kdramas românticos e engraçados. Com uma escrita leve, é uma leitura rápida e satisfatória. É uma boa escolha não só como leitura de verão, mas também como prática para aqueles que desejam aperfeiçoar o seu Inglês. O estilo de Goo é simples e divertido, sendo capaz de prender a atenção do leitor à história num ápice.
Estamos perante um enredo descontraído e, de certo modo, exagerado e previsível, o que é muito frequente em kdramas românticos. Pode não ser o ideal para quem não gosta da vergonha alheia e não conseguir aguentar personagens muito ingénuas. Apesar de eu própria não gostar de livros sobre obsessões não muito saudáveis por uma pessoa, foi interessante ver como a autora tentou tornar plausível um tipo de história que é tão recorrente nos kdramas, ou seja, a tentativa de conquistar o crush. Temos vários momentos estranhos e, até mesmo, perigosos, como quando a protagonista, sem nunca desistir, tenta provocar um pequeno acidente rodoviário para chamar a atenção do rapaz. Um outro momento que não gostei foi quando a protagonista pôs em risco a sua educação por ele. Há demasiadas histórias sobre raparigas que desistem da escola ou da universidade dos seus sonhos devido a uma paixão tonta por alguém. Em pleno século XXI, isto não deveria ser considerado romântico. São estes aspetos que podem fazer o leitor torcer o nariz. No entanto, e embora isso não seja claro, a autora pode ter criado estas cenas como momentos de aprendizagem, onde dá para ver que há mais na vida do que boas notas e ficção e que a vida é imprevisível e não faz mal cometer erros e não ser capaz de controlar tudo.
Quanto às personagens, Desi Lee é muito ingénua (talvez demasiado), desastrada e adorável. Pode parecer um pouco tolinha, mas, no meio de tantos livros YA onde os jovens são sérios e cheios de problemas graves, é bom ter uma personagem como Desi. Sonhadora, divertida e querida, mas também determinada e focada nos seus objetivos. Sendo coreana e americana, por vezes, critica a norma branca e masculina, principalmente em áreas como o cinema e a literatura. Estas críticas são feitas de forma natural e mostram como os livros, atualmente, são uma forma de luta pela representatividade nas artes. Luca Drakos não é exatamente o típico bad boy, mas é um pouco rebelde, talvez devido aos problemas familiares que tem.
Em conclusão, fico surpreendida por I Believe in a Thing Called Love não ter uma edição portuguesa. É um romance contemporâneo com o potencial de conquistar os adolescentes e de os fazer ver que a vida é um conjunto de imprevistos e que os erros podem ser momentos de aprendizagem. É um livro que mostra que o excesso de ingenuidade não é bom, mas é preciso um pouco de inocência neste mundo complicado. Por ter uma escrita simples, um enredo engraçado e descontraído e personagens cativantes, este livro de Maurene Goo é perfeito para quem deseja ler romances descomplicados com adolescentes que acham que tudo é complicado.