Clockwork Angel (na versão portuguesa da Editorial Planeta, Anjo Mecânico) é o primeiro livro da trilogia The Infernal Devices (na versão portuguesa, Caçadores de Sombras-As Origens), de Cassandra Clare. Neste volume, que se passa na Época Vitoriana, conhecemos Tessa Gray, uma jovem que vivia em Nova Iorque e vai até Londres por convite do irmão Nathaniel. Ao chegar lá, conhece as irmãs Dark, duas mulheres estranhas que dizem vir recebê-la em nome do irmão. Mal ela sabia que seria raptada por ter um poder que desconhecia. Após seis semanas de solidão e de tortura, Tessa é salva por Will e outros Shadowhunters, guerreiros com sangue de anjo concebidos para eliminarem demónios. A partir daí, Tessa embarca numa viagem repleta de questões e de emoções fortes e ela percebe que a sua vida não voltará a ser a mesma.
Da autora, já tinha lido os primeiros três livros da coleção Os Instrumentos Mortais. Gostei do primeiro livro, não gostei tanto do segundo, mas o terceiro prendeu-me e gostei imenso. Os restantes três livros estão na estante à minha espera, mas ainda não posso ler os dois últimos, pois é melhor ler a trilogia primeiro. Posto isto, o que posso dizer é que, ao ler Clockwork Angel, agora percebo porque muitos leitores preferem a trilogia à coleção. Eu adorei este primeiro volume. Foi intenso, espantoso e surpreendeu-me imenso. Queria terminá-lo o mais rapidamente possível, porque queria saber o que acontecia a seguir, mas, ao mesmo tempo, não queria acabar, porque queria mais. Para mim, acaba por ser um pouco o oposto d'Os Instrumentos Mortais. Enquanto na coleção vemos a autora a valorizar demasiado as relações amorosas entre as personagens, em Clockwork Angel, temos, de facto, o interesse pelas relações das personagens, mas a autora teve o cuidado de desenvolver bem a história primeiro. Portanto, pode-se dizer que, neste aspeto, há uma evolução.
A história cativou-me logo na primeira página. Clare fez uma escolha sensata ao abrir a nova trilogia com uma cena misteriosa e que está relacionada com o mundo por ela criado. Também fez bem ao focar-se somente na ação e não tanto nos pensamentos e nas emoções das personagens. Estão presentes na história e não poderiam faltar, pois é importante que o leitor entenda e conheça as personagens, mas a ação não foi sacrificada em nome das possíveis relações amorosas ou pensamentos inúteis no desenrolar da ação. Ao longo do livro, temos muitas coisas a acontecerem e não há momentos mortos e, por isso, torna-se numa leitura compulsiva. É, sem dúvida, uma história que pode ser apreciada por qualquer leitor.
Fanart relativa a Clockwork Angel. |
A escrita da autora foi uma surpresa para mim. Como até agora li traduções das obras delas, não me tinha dado conta da simplicidade da escrita dela. Penso que as traduções portuguesas ficaram demasiado embelezadas e apagaram a verdadeira essência dela. Gostei imenso das descrições, que não eram minuciosas, mas sim suficientes e diretas. A forma como ela facilmente introduziu os pensamentos das personagens através de um narrador na terceira pessoa também foi bem conseguida. Claro que houve palavras que eu não percebi, mas foram poucas e não dificultaram a compreensão do texto. Assim, se alguém quer ler este livro na versão original, mas tem receio quanto ao nível de inglês, aconselho a leitura a quem se sente seguro e tenha um vocabulário bom. De facto, para quem está a começar a aprender agora ou já não fala inglês há algum tempo, talvez não seja o ideal.
Por fim, as personagens estão bem construídas. Nota-se que a escritora não colocou o potencial todo delas neste livro, até porque estamos a falar de uma trilogia. Logo, certamente que haverá muito mais desenvolvimento nos seguintes livros. Além disso, há ainda muitos segredos por desvendar e perguntas a responder. Deste modo, ao contrário das personagens d'Os Instrumentos Mortais, gostei imenso das personagens da trilogia. Não eram chatas e infantis como as da coleção. Além disso, em Clockwork Angel, não senti que a personalidade delas tivesse sido apagada pelas relações entre elas, o que, infelizmente, aconteceu na coleção. É mais fácil o leitor criar empatia por Tessa, Will, Jem e outras, do que por Clary, Jace, Simon e outras que nos foram apresentada na Cidade dos Ossos, o primeiro livro da coleção. Tessa é uma jovem sensata que, de repente, passa a viver num mundo totalmente novo, repleto de demónios, caçadores de sombras, vampiros e outros seres. Apesar de tudo, tem uma enorme força de vontade para enfrentar as novas adversidades. Will é atrevido e escolhe ser rude, pois não quer ter ligações especiais com qualquer um devido aos seus segredos. Nada foi revelado, deixando o leitor extremamente ansioso por ler o segundo livro. Acreditem, eu quero muito ler o segundo livro. A seguir, temos Jem, o parabatai de Will (parabatai é um termo usado pelos Shadowhunters para explicar a forte amizade entre dois guerreiros. Acaba por ser um laço mais forte do que o laço familiar). Jem é carinhoso, inteligente e reservado e irá captar o coração do leitor devido ao seu passado turbulento e à sua personalidade sensível. Todas as restantes personagens são importantes e contêm características que irão interessar o leitor.
Tradução livre: "O que quer que sejas fisicamente... Homem ou mulher, forte ou fraco, doente- todas essas coisas interessam menos do que o teu coração contém. Se tens a alma de um guerreiro, és um guerreiro. Todas as outras coisas, elas são o vidro que contêm a lamparina, mas tu és a luz de dentro." |
O único aspeto negativo que tenho a apontar é a construção de uma possível relação amorosa entre Tessa e Will. Surgiu de uma forma muito rápida e não houve justificações plausíveis para que houvesse uma relação de tão grande intensidade. Aí, parece que a autora voltou aos erros que cometeu na coleção. Contudo, talvez haja melhorias nos seguintes livros da trilogia.
Concluindo, Clockwork Angel foi uma boa forma de iniciar a nova trilogia. A escrita é simples e envolvente e a história desenrola-se de uma forma relativamente rápida, deixando o leitor ansioso por querer ler mais. As personagens são fascinantes e o mundo sobrenatural que as rodeia, embora não seja totalmente único, irá encantar as pessoas que adoram este tipo de histórias. Recomendo vivamente.
Classificação: 4.5/5 estrelas.
Próxima leitura: City of Fallen Angels (#4 The Mortal Instruments), de Cassandra Clare.