Primeiro, deve-se saber o que é o género. Segundo Vítor Aguiar e Silva, os géneros literários “são constituídos por códigos que resultam da correlação peculiar de códigos fónico-rítmicos, métricos, estilísticos, técnico-compositivos, por um lado, e de códigos semântico-pragmáticos, por outra parte, sob o influxo e o condicionalismo de determinada tradição literária e no âmbito de certas coordenadas socioculturais.” (Aguiar e Silva, 2011: 390). No artigo “The Problematics of Categorizing Young Adult Fiction as Genre”, a autora usa as ideias de Todorov, que diz que os géneros existem como “horizontes de expectativa” para os leitores, mas funcionam como “modelos de escrita” para autores: “As a model of writing, genre can thus guide the writer’s work and dictate some aspects of the end result: and as a horizon of expectation, genre can exert power in the reading process, inviting a reader to extract meanings pertaining to the conventions of the genre.” (Risku, 2017: 9).
Graças a estas definições, já se pode ver como YA, na realidade, não é um género. É verdade que um livro, para ser categorizado como YA, deve seguir certos traços e, portanto, corresponder a um padrão determinado por quem estabeleceu a ideia de YA. Por exemplo, nestas histórias, verifica-se que as personagens, na sua maioria, são adolescentes. São contadas pelo ponto de vista de um indivíduo jovem e, muitas vezes, o narrador é omnisciente. O protagonista, devido a diversas circunstâncias, deve enfrentar os seus problemas de forma independente, não contando com a ajuda dos pais ou de outros adultos, que, várias vezes, nem sequer existem ou não estão constantemente presentes. Em termos formais, a escrita, normalmente, é simples, fluída e não muito descritiva, transmitindo uma sensação de rapidez alucinante e a ideia de espírito jovial, ou seja, a ação desenvolve-se rapidamente e parece haver muita adrenalina até ao último parágrafo.
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Todavia, não se dá muita importância ao veículo da história. Também, quanto à forma, não há nenhum padrão a seguir, isto é, não interessa se a história é contada através do romance, de versos ou de uma peça de teatro. Valoriza-se mais a história e as mensagens que se pretende transmitir. Não se dá especial atenção a traços estilísticos ou a códigos “técnico-compositivos”. A partir das afirmações de Aguiar e Silva, apenas se pode dizer que o YA depende “de certas coordenadas socioculturais”, que são fundamentais para a definição desta categoria. Há todo um leque de problemas socioculturais bem vincados no YA, como o racismo, a xenofobia, a homofobia, etc. Quanto a códigos “semântico-pragmáticos”, será rebuscado mencionar que deve haver uma linguagem própria do adolescente aquando da escrita de um livro YA, mas não se segue nenhuma tradição literária, a não ser quando vemos muitas adaptações de livros clássicos para jovens, como um reconto do Frankenstein ou do Drácula. Mas não é a isto que se refere o estudioso português. De facto, não dá para ver o Young Adult como um género literário. Não há uma teoria estabelecida. Não se segue literalmente um padrão, quer formal, quer em termos de conteúdo. Não se dá importância a regras. O que interessa é que o autor tem uma história para contar e vai contá-la tendo em mente que o seu público é o leitor adolescente.
The Poet X, de Elizabeth Acevedo, é um dos grandes sucessos no mundo dos livros YA em verso. Fonte. |
Posto isto, o Young Adult, na realidade, remete mais para a idade do leitor. Foi um termo criado por bibliotecárias que perceberam que os adolescentes queriam listas de livros para ler a seguir ou pela primeira vez. Foi, entretanto, desenvolvido pelo mercado editorial e pelas livrarias. Hoje em dia, não é nada mais do que uma resposta à necessidade de organizar os livros conforme as idades dos leitores, sendo também um termo usado pelo departamento de marketing das editoras (para atrair, através desta categorização genérica, os leitores desejados e obter lucro) e pela organização das livrarias (que devem compor as suas estantes em secções com livros semelhantes). O Young Adult mostra, então, o poder e a influência que o mundo editorial tem sobre o estudo da literatura ao ponto de fazer as pessoas analisarem o YA e verem se é mesmo um género ou não.
Um outro aspeto que prova que o YA é uma designação baseada nas idades são os temas tratados neste tipo de livros. Como já foi referido, estes livros focam-se principalmente nos desafios vividos pelos adolescentes numa altura de transição (de criança para adulto). Devido a esta dualidade, há outras dualidades que são exploradas, como a vida e a morte, a humanidade e a falta dela, o Eu e o Outro, etc. Quem analisa o YA identificou estes temas como aqueles que caracterizam esta categoria. Todavia, não existirão estes temas também na ficção adulta? Ou até mesmo na ficção infantil, mas tratados de forma mais leve? Ainda na vida adulta, o indivíduo continua a sentir a necessidade de procurar e/ou desenvolver a sua identidade, o que quer dizer que isto não acontece somente na adolescência. Portanto, será suficiente dizer que um livro faz parte do YA só por tratar temas que, na realidade, são recorrentes em toda a literatura? Ou seja, é difícil usar algo tão geral numa categoria tão específica. Estes tópicos não pertencem apenas ao YA e, por isso, ao falar sobre este tipo de livros, não podemos usar a presença desses temas como o fator que classifica um livro como YA.
O público-alvo do YA é o adolescente, mas os mais velhos também podem ler livros YA. Afinal, esta categoria aborda imensos temas universais. Fonte. |
Por fim, um dos problemas maiores desta designação é a confusão das idades que servem como limites do YA. As próprias editoras são uma das “culpadas”, criando categorias como “8 aos 12 anos”, “10 aos 14 anos” e “12 para cima”. Realmente, talvez seja melhor existir mais divisões do que apenas a divisão do YA, até porque um adolescente de 12 anos poderá não querer ou conseguir ler um livro que é mais adequado para um adolescente de 17 ou 18 anos, assim como um adolescente de 18 anos não irá querer ler um livro mais adequado para um adolescente de 13 anos. Além disso, fora do mundo editorial, em relação ao estabelecimento de limites de idade para YA, há muitas divergências, havendo quem ache que o YA é para os leitores dos 11 aos 18 anos e outros que acreditam que os limites são dos 12 aos 19 anos, etc.
Concluindo, o Young Adult não pode ser visto como um género literário, pois não cumpre os requisitos requeridos pela teoria literária quanto à existência de géneros literários. É, na realidade, uma categoria útil para separar os livros para adolescentes da ficção infantil e da ficção adulta. Mesmo assim, a categoria apresenta características não muito bem fundamentadas, principalmente no que toca às idades que variam de editora para editora, de escritor para escritor, de leitor para leitor, etc.